SONETOS BÁRBAROS (De 15 a 21)
FOME DE ALEGRIA E INSPIRAÇÃO
Acordei bem cedinho dentro de uma grande alegria,
Banhei-me com os perfumes das frutas da estação.
Respirei o ar puro da manhã que tão bem me fazia,
Senti o frescor gostoso do inverno em sua cerração.
Gotas de orvalhos pingavam lágrimas de saudação!
O sol foi aparecendo mansinho com a sua maestria,
Dentro de cada flor havia a fragrância em exalação.
Um belo nascer do dia que a qualquer um contagia!
Pele aveludando-se, aos poucos vai ficar morninha.
Esfrego minhas mãos no hálito de sopro fumegante,
Vou caminhar nesta alvorada que hoje é só minha.
Como se fosse um canudo, enrolo essa inspiração contagiante,
Sugo esta paisagem pra dentro do coração, onde ela se aninha.
Faço então dessa natureza, meu alimento que te passo adiante.
MEU BEM QUERER
A cada desejo que me acorda na noite sozinho,
Eu penso em você para aquecer meus espaços.
Ficou naquela madrugada o seu último carinho,
E o teu perfume que exalavas em seus abraços.
Não tenho mais o seu doce corpo dentro de mim,
É um vazio que somente a tua presença me cura.
E nos meus delírios em sonhos, tortura-me assim,
A falta do meu bem que meu coração não atura.
Volte agora sorrindo que eu estou lhe esperando,
Não deixe o sofrimento fazer parte desta paixão.
Entre comigo pura e nua, ainda estamos amando.
A longa distância que ficou entre nossa separação,
Não é um motivo a impedir que eu volte chorando.
Guardo o mais puro amor para reatar nossa união.
BLASFEMA
É uma pena que a sua mente não reconheça,
Essa graça divina que a ti o fez tão inteligente.
Cada amanhecer é uma glória, não se esqueça
Em seu dever, de agradecê-lo espiritualmente.
Onde estiveres e a quem dirigir as suas palavras,
Não deixe a falta de educação ser tua companhia.
A mágoa é perdoável a quem tu tanto honravas...
Mas, perante o criador a ofensa é grande heresia.
Bocas prolixas semeiam rancores desnecessários,
Enquanto não existir seu próprio valor da cautela,
Que é remédio para você não abarcar adversários.
Pensar antes de falar e respeitar uma amizade bela,
Trará a paz e luz interior, como se fossem relicários,
Onde a origem da blasfema nem de longe se revela.
EU E O SEU ÚLTIMO OLHAR
Quando retorno desta imensidão desolada,
Venho sem acariciar o meu mundo interno,
Vi muitas coisas em maldade confrontada,
Onde nada parecia sobreviver neste inferno.
Sem que esta bala me perfurasse o sentimento,
Qual minha mente se prontifica na morte lenta,
Sou o alvo do pavor convulsivo em sofrimento,
E de tanta agonia meu pobre coração arrebenta.
Sei que moras na imensidão da sua palavra amiga,
Qual você a acolheu com educação na crédula paz,
Mesmo sabendo que tua sorte pudesse ser atingida.
Não reconheço a ira em teu olhar que me implora e traz,
Parece sim que em meu doído peito ela já foi prometida,
Fome sem vida em ato voraz, por ti ninguém chora rapaz.
AMOR, MORTE E SEGREDO
Cada vela que em mim reluzia,
Na minha fisionomia já morta,
Não iluminava a minha alegria,
Que minh’alma não se conforta.
Tens pressa porque (Ó dona despedida)?
Se a maior tristeza és tu que aguardei,
Quando a morte é tão calada e sofrida,
Toma-me em vida aquela que suspirei.
Nunca aqui, não me assistirá porque parti...
Nem o que pensares ter eu de ti colhido,
Mas, sim o meu corpo que abandonavas...
Ah! Levar-te-ei comigo, se estiverdes aqui?
Talvez nem sejas você, esse outro escolhido,
Pois, nosso pecado em verdade tu revelavas.
TERRA DE NINGUÉM
O que pensas? Só porque aqui habitas,
Não te retirariam da safra dos inocentes?
A sina que pedes sem serem as malditas,
Não são olhos medrosos dos descrentes?
Na vida em verdade, a passagem gloriosa
É uma semente que germina e apodrece...
Nada que te faça Deus na sua fé ardorosa,
Por sua herança do nada, tudo se esquece.
Eu vos digo em voz alta e soberanamente,
Que o primeiro a abandonares loucamente,
É teu princípio e não sua criação espiritual.
E esse começo não se esqueça, tem nome!
Dentro da própria carcaça que te consome,
É um corpo somente depositado em funeral.
MAR DE ESPOSAS E AMANTES
Quando as mais lindas melodias inflamadas
Do peito nosso, se abrem em amores traídos,
O ardume do coração é exposto às amadas,
Que fazem dos sentimentos..., cacos caídos!
No mar das alvoradas, soa esse lamento,
Triste por mais uma pobre dor sem cores,
Onde o remar nesta imensidão é desalento,
Sem nunca mais eu encontrar esplendores.
Por aquelas que me entregaram dúbias paixões,
Quais a tiveram por eu abrigar muitas mulheres,
Sofro tanto ou mais que minhas próprias ilusões...
Sinto-me atracar num porto de uma ilha isolada,
Condenado sem razão por amar minhas esposas,
Ouço no vento aquela triste canção... Lembrada...