PLAGIADOR & +
PLAGIADOR – 2 JAN 12
Um dia, eu encontrei falso poeta,
que apresentava como sendo seus
versos copiados, igual que fariseus,
de Araújo Jorge, do amor real profeta.
Ele escrevia em caderno essa secreta,
pequena fraude para os olhos meus
impressionar, quais olhos de sandeus,
incapazes de escapar a essa sua treta.
De fato, impressionaram minha irmã,
mas o livro eu já possuía de J.G.
e lhe mostrei do amigo a falsidade,
que ao menos dessa vez, tornou-se vã
e embora confrontação eu não lhe dê,
não mais confiamos em sua habilidade...
FLUTUADOR – 3 JAN 12
Nossa vida não é em nada permanente,
embora o sejam o passamento e o olvido
e por mais longe que a memória o tente
tanto mais o esquecimento tem vencido.
Por mais que no passado tenhas crido
ou por mais que ainda esperes do presente,
tudo o que pensas ou o que tens agido
se misturam no aluvião indiferente.
Toda memória é memória da lembrança,
somente é puro o que cai no esquecimento;
toda mentira é feita de esperança
e até o ponto a que alcança o julgamento,
nada lembramos dos tempos de criança
senão as ilusões do sentimento...
ERUPTOR – 4 JAN 2012
Quando minha carne transformar-se em lava
e o corpo inteiro em nuvem de calor
e se expandir, em piroplástico esplendor,
que a cinza em meus cabelos mais agrava;
quando explodir a minha mente escrava,
das convenções sociais sem mais temor,
numa cratera sem o sangue protetor
que cefalorraquiano a terra escava;
quando eu sentir que me derramo em ti
e teus quadris a receber soergues,
num breve instante, levitação fugaz,
somente então eu saberei que vivo aqui
sem ser fantasma de teor falaz,
a oscilar sob o sonho que me asperges.
ESCAVADOR – 5 JAN 12
Como as florestas sob os restos crescem
De bosques mais antigos, a cidade,
Sobre os restos da mais velha humanidade,
Tende a crescer enquanto os anos descem.
E essas ruínas, que já desfalecem,
São recobertas até a opacidade,
Por entulho, por caliça, por vaidade
E as cinzas do passado já se esquecem.
Quando Schliemann Troia descobriu,
De nove cidades encontrou estratos,
Depois se acharam até vinte e três.
Quantas vezes o inimigo destruiu,
Sem deixar mais que a sombra dos retratos,
Veio outro povo e tudo então refez...
PIRITA I – 6 JAN 12
o ouro é ilusório, pois parece
a labareda cálida do fogo,
mas não se dobra a ladainha ou rogo,
indiferente a lágrimas ou prece.
Contudo, como queima! Quando desce
essa ambição que aos olhos cega logo
essa ânsia febril por esse jogo,
cobiça pura que dentro dalma cresce!
No tempo antigo, usavam de ouro dentes:
quanto cadáver assim foi despojado!
Mas ouro puro nem deveria ser,
porque, até hoje, se vê que os mais prudentes,
ao serem pagos com o ouro desejado,
conferem seu valor pelo morder...
PIRITA II
E o ouro na sua boca, assim não queima!
Nem na moeda mordida e nem nos dentes.
São os postiços, dizem, indiferentes
à ptialina e resistem, noite e dia,
até aos versos mais candentes da poesia!
Que dirá aos tragos que ingerem tão frequentes!
Que são às carnes mais duras resistentes,
num mastigar feroz de pura teima!...
Segundo dizem, essas próteses douradas
só pararam de ser utilizadas
pelo preço ou imposição da dialética...
hoje as resinas são mais cobiçadas,
nesse exercício da profissão protética,
para a aparência de uma falsa estética...
PIRITA III
Existem hoje, em quantidade, implantes,
os resultados da periodontia,
os aparelhos para ortodontia
e artifícios até bem interessantes...
E há quem resolva, em momentos delirantes,
os dentes arrancar que então trazia
e trocar por dentes falsos, pois sorria,
sem mostrar as dentaduras apinhantes...
E essas próteses dentárias valem ouro
e não queimam as luvas dos dentistas,
apenas favorecem sua poupança...
E o sorriso de uma atriz vale um tesouro,
para aplainar-lhe o caminho das conquistas,
na porcelana fina da esperança.