Sicomancia

I - Sicomancia

Sombrio ritual de inexplicável graça

-O qual sublima a mente e o coração palpita-

E em meio ao Eidos a alma é brasa sem fumaça

Queimando assim neurônios na sina maldita

Do poeta. O bom cordeiro que se sacrifica,

Gravando no papel com sangue, dor e raça

Ofertas mil à musa; erige com a escrita

O templo à deusa que lhe traça a sorte baça.

E a cada culto leva ao peito uma questão:

“-Aonde tanto amor me leva, aonde, aonde?

Serei recompensado a tal dedicação?”

Ao que sem dizer nada a musa lhe responde:

-Bem sei de tua ânsia de adentrar a História...

Teu sangue escorrerá e não verás a glória!

II – O balão

Os olhos de metal derretem de emoção...

Da gente reunida em torno a arte pura

Podendo transcender a realidade dura

Co’as asas que ele empresta da imaginação.

Por dentro queima- mas por fora é armadura -

Pondo a sonhar em erro- ‘inda com convicção!-

“Qual forte material compõe este balão?...”

Apenas com papel é que alcança as alturas!

Mas estes poucos que fascina- tão de perto-

Busca multiplicar neste ascender incerto...

( Pois que poucos olhares são os seus remorsos).

Assim desenha no ar dos poetas o fado:

Aqui embaixo pouco valem seus esforços

Somente após partir é, por fim, admirado.