Sonetos de Luís de Camões

No mundo poucos anos, e cansados,

vivi, cheios de vil miséria dura;

foi-me tão cedo a luz do dia escura,

que não vi cinco lustros acabados.

Corri terras e mares apartados,

buscando à vida algum remédio ou cura;

mas aquilo que, enfim, não quer ventura,

não o alcançaram trabalhos arriscados.

Criou-me Portugal na verde e cara

pátria minha Alenquer, mas ar corrupto

que neste meu terreno vaso tinha,

me esmanjar de peixes em ti, bruto

mar, que bates na Abássia fera e avara,

tão longe da ditosa pátria minha!

Sonetos

Luís de Camões

Pedro Prudêncio de Morais
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 14/03/2012
Código do texto: T3553435
Classificação de conteúdo: seguro