AGUARDANÇA &+

AGUARDANÇA

2006

Por ti esperarei, por tanto tempo

quanto garanta o [e]terno sentimento

que despertaste em mim, inabalável,

nos séculos de outrora, num evento

que me fez rever em ti, num só momento,

de espantoso e total conhecimento,

aquela descoberta inexorável

que dentro em mim gravou-me tal portento

o quanto para mim significavas,

embora perceber fosse também

que a seres minha, muito custarás.

De uma só vez, meu peito conquistavas.

O que eu serei, bem sei; mas tu, porém,

como posso saber o que serás?...

INDIVISO (28 JUN 06)

Tu sabes bem que nos será difícil

Modificar as vidas de improviso;

Por isso o coração tão indeciso

Conservas tal como se fosse físsil

E dividido em lâminas delgadas:

Até aqui é amor; porém, aqui,

É amor de filha e irmã; e logo ali

Percebes tantas emoções interligadas...

Não é assim comigo: eu sou inteiro,

Não me divido, eu sei o que desejo,

Sou permanente, sem qualquer paixão.

O que sinto por ti é verdadeiro:

Por mais que anseie, alfim, pelo teu beijo,

Prefiro muito mais tua alma e o coração.

ANUÊNCIA (28 JUN 2006)

São raros os instantes em que nos encontramos,

Mais raros os momentos em que haja concordância;

Nós só nos vemos sempre na frase de elegância

Que de esgrimar rutila; e assim, entrelaçamos

Em combate verbal e então, à flor da pele,

Em carne viva os nervos, talvez por mais desejo,

Se conturbam e esbatem, quiçá no mesmo beijo

Que os lábios se dariam, apenas se congele

A cascata irrequieta e inútil que exaspera;

Porque nos condenamos à sombra dessa espera,

Sem procurar, enfim, do ardor uma ocasião.

E alfim nos evitamos, temendo se revele,

Aos olhos dos estranhos, a mesma exultação

Que os beijos nos fizera gozar, à flor da pele...

COEMPÇÃO (28/6/06)

De tudo o que me dizes, uma coisa é bem certa:

Passou-se o tempo em que negavas sentimento;

Agora consideras, já pensas no momento

Em que me acolherá tua alma deserta.

Ainda hesitas, bem sei, és tão esquiva,

Nesse teu caprichoso refulgir constante,

Em que o amor te acende e, solapante,

O medo se insinua ao coração, em viva

Inquietação, que nova resistência

Reforça para opor à minha consistência,

Embora sempre acabes por voltar...

Porque, afinal, tens tudo calculado,

Os prós e os contras, tudo sopesado

E já iniciaste o futuro a planejar...

TURBILHÃO (28-6-06)

Acho que viste agora que a proposta

De minha parte, ao menos, é sincera:

Se a carne encontro ao meu querer disposta

Tê-la também a meu prazer quisera...

Não que isto represente desenganos,

Nem que este olhar que assim te pertenceu

Se afaste tão somente por levianos

Casuais encontros, desse olhar que é teu!...

Nem que eu só queira te possuir, menina,

Por desprezar depois, gentil bonina

Colhida ao torvelinho em que sofreu...

Mas é que o mundo é tão mais desumano!

E quem não tem um coração profano

Vê destroçado o sonho em que viveu...

REGRAS DA VIDA LXXIII

Politicamente, se tornou correto

Afirmar não haver crianças más,

Que em sua atitude só encontrarás

O mau comportamento e o desafeto.

Dizer tais coisas sempre foi dileto

À Nova Era e ainda escutarás

Que loucos homicidas deverás

Manter no lar para lhes dar afeto.

Sou contrário a tais coisas. A maldade

Tem de ser dominada. A educação

É o que transforma monstrinhos em humanos;

Mas se a criança tem plena liberdade,

Mais maldade fará, que o coração

É fonte impura de atos desumanos.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 06/03/2012
Código do texto: T3539390
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.