SONETO DO SONHO AMPUTADO
Arrasto-me nos charcos de temores
do mundo que me surra mui inclemente,
cravando-me o mortal e fino dente
nas veias, ossos, suga-me vigores!
Ardores meus! A luz se esvai fremente,
entreva as esperanças, seus verdores
e espalha a escuridão dos estertores
nos ledos da ilusão, nervosamente!
Por que sangrar um ser na edaz fereza?
Por que me aleijas, mundo, na crueza
de amputações de sonho e fé perdida?
Sorrio para alheios sóis serenos,
enquanto amargo, em ácidos venenos,
a morte que me toma em plena vida...