A IMPARCIALIDADE DA VIDA

Não chores pela vida que te aflige, moço!

Não sabes que ela cumpre seu destino frio,

cravando cada sina, dia e noite, a fio,

nos âmagos dos seres, pele, carne e osso?

A Terra não lamenta ver-te neste fosso!

O abutre mata a fome frente a infértil rio

e, farto, eleva ao sol o esvoaçar sadio...

A Terra extrai, do podre, o vivo em novo esboço!

Entende tu que o mundo, ao teu chorar, é mudo...

Entrega todo o tempo ao teu viver mortal

e faze teu percurso, seja como for...

Porque, indiferente a tudo, tudo, tudo,

a vida, cegamente, segue em espiral

e alheia à borboleta morta, nasce a flor.