Soneto do amor carente
Minh´alma anda sedenta como fundo poço vazio
como terra de verão escaldante, seca e gretada
com flores que brotam e secam, pois seco é o rio
infértil, em ladrilho duro e desigual, transformada
Anda minh´ alma assim perdida, sem rumo, carente
bambeando como graveto seco em estação de sol
talvez lançando ao céu um brado mudo e descontente
na esperança que ferve de um novo e alegre arrebol
não sabe ela que palavras de amor à esmo são ditas
muitas vezes e recebidas de outro jeito, como verdade
coração que ama, infantil , brinca com estrelas e fitas
ainda não aprendeu que a indiferença é nódoa forte
que o desamor fere, perfura , faz sangrar devagarinho
e deixa cair em terra seca, gota do sumo da flor em morte
Busque amor, novas artes, novo engenho..." (Luis de Camões)