Metamorfose
Um dia eu acordei do nada inseto!
Sentia-me estranho e pequenino
Igual quem vem ao mundo como feto
E chora por instinto o seu destino.
A vida me era um perigo direto
E cada passo alheio, um desatino,
Assim, medroso igual a um menino,
Dei por melhor era ficar bem quieto.
Tranquei-me então num quarto em canto escuro,
E após cobri com raiva seus espelhos
Pra não ter mais de ver-me em seus conselhos.
Ali, encarcerado mas seguro,
Apodreci secretamente obscuro
Assim como apodrecem outros velhos.