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(Dois sonetos e um poema).
Dedico esta página aos amigos poetas e poetisas, nesta especial data.
SONETO E POESIA
Sou um Soneto. Meu rosto é meu verso.
Não me verás na face que procuras,
Sonda-me o coração – alma em nervuras -,
E encontrarás meu ser no teu, disperso.
Longe de ti, de te pensar não cesso,
Pois que em meu sonho feito de venturas
Ergo o meu pensamento às alturas
E me perco sem ti, no céu inverso.
Não se vive um amor sem fantasia
Senão, do que seria este poeta
Que é teu, e tu qu'és minha nesta ausência?
Sou um Soneto e te amo, Poesia!
Platônica paixão nos inquieta
O coração, a alma e a consciência!...
SILOGISMO
Silente e vaga a etérea luz remota
Mitiga a lucidez no escuro abismo
Meu pensamento alude um silogismo
Maior premissa é a verdade ignota.
Cinge-me o peito a fé que me devota
O espírito a prender-me no aforismo
Razão consciente - meu conceptismo-,
Antítese em minh’alma se denota.
Meu ser descrer do argumento hipotético,
Vê na certeza a afirmativa lógica,
Na inspiração a conclusão concreta:
Todo poeta é um sonhador estético
Estético eu sou numa idéia gótica.
Logo, se estético eu sonho, sou poeta.
ESCULTURA
Do pó do destino
é o mármore da vida
em lápide esculpida.
Vê-se o perfil bizantino
na fria face de opala.
Onde a arte se eleva, a alma se cala.
E o Criador assiste a criatura
na arte imitando a vida, esta escultura,
- inacabada obra -.
E à estátua, que ao sol rebrilha quando ao vento estala,
falta-lhe o espírito, que ao gênio sobra.
Pois o artista pensa, mas sua obra não fala.