ROCIO
Marcos Loures
Sentir o teu prazer em minha boca,
Rocio delicado e saboroso,
Bebendo cada gota do teu gozo,
Delírio que em delícia já se aloca,
O rio vai descendo pela toca
E roçando estas margens, prazeroso,
Deveras carinhoso e caprichoso,
Nas águas de teus mares desemboca...
Num frêmito, este orgasmo prometido,
O amor feito em amor, nele curtido,
Além deste horizonte, lua clara,
A fonte não se seca e não termina,
E quanto mais intensa mais fascina,
Vibrando esta emoção, divina tara...
*Tu és meu rio...*
Edir Pina de Barros
Tu és meu rio e vou correr em tuas veias,
invadirei teu leito, todos os recantos,
e, murmurante, cantarei os doces cantos,
rolando em teus confins, lençóis de seda, areias;
vou revirar-te as pedras, seixos, como anseias,
e beberei, nas doces águas, teus encantos,
e, sem pudor, hei de esgarçar mil véus e mantos,
dançar contigo a valsa, que no chão coleias;
e vou brincar, rolando, nesses mornos braços,
vou entregar-me a ti no teu macio leito,
amar nas alvas praias, como sempre quis;
depois de percorrido todos os espaços,
nas espumantes águas frescas me deleito,
e na barranca tua vou dormir feliz.
Poesia das Águas, pg. 113
Sonetos selecionados, pg. 71
Marcos Loures
Sentir nas tuas margens a loucura
Ao desvendar mistérios, ritos, lendas,
E quanto mais decerto ainda estendas
As braças, onde o sonho te procura.
Viver o quanto queira e da ternura
Singrar onde deveras tu desvendas
As tramas mais audazes, sedas, rendas,
Um mundo que no amor já se emoldura,
Bebendo em tua boca a fúria e o gozo
De um dia mais sublime, majestoso,
Na inundação que invade inteiro o delta, a foz,
E nesta confluência dois errantes,
Por certo tantas tramas me garantes,
E a fúria se permite intensa em nós...
*Confluências (1)*
Edir Pina de Barros
E a fúria se permite intensa em nós
rolando sobre o leito, como rios
a preencher as grutas, seus vazios,
em busca do prazer que vem após;
dois rios enlaçando-se na foz,
depois de tantos beijos, desvarios,
da inundação dos deltas e baixios,
seguindo entrelaçados, feito os nós.
E rolam juntos, bem distante vão,
ardendo nas volúpias mais fogosas,
entregues um ao outro, sem temer.
Nas tramas mais audazes da paixão,
singrando pelas águas espumosas,
alcançam o mar profundo do prazer.
Brasília, 17 de Outubro de 2011
PURA CHAMA- pg. 45
Marcos Loures
Nos abissais anseios da paixão,
Em furnas e caminhos tão diversos,
Ousando penetrar tais universos
Traçando a cada instante uma erupção,
A vida se moldando em tal vulcão
Trazendo esta emoção em claros versos,
Deixando para trás passos dispersos
Vivendo desde então esta união.
Voluptuosamente se desnuda
E a noite se anuncia em plenitude,
Ainda quando o sonho possa e ilude,
A dita se mostrara mais aguda
E assim num mesmo clímax, confluência,
Orgástico fascínio em florescência.
Confluências (2)
Edir Pina de Barros
Na força da volúpia o corpo berra,
a repetir canções, feito realejos,
soltando pelos ares seus lampejos,
e a alma vai ao céu, distante erra.
O vicejar do amor, sem medos, pejos,
nas lavras da paixão, que em si encerra
um roseiral em flor, na morna terra
regado pelas águas dos desejos.
Queimando os corpos nus, expondo as brasas,
a força da volúpia cria asas,
e pode ir além do que tu pensas.
O orgástico fascínio em florescência,
sem se importar com pejos, com decência,
é qual vulcão liberto em lavas densas.
Brasília, 17 de Outubro de 2011.
PURA CHAMA, página 46