AMOR INFECUNDO
Engulo venenos de tuas injúrias,
viscosos, amargos, que descem cortando,
arranham garganta a sangrar, ressecando
o corpo arquejante, que esvai-se em penúrias.
Estive a teu lado, a chorar-te as lamúrias,
eu fui teu esteio, alicerce, teu brando
sentido a banir-te o vestígio nefando,
salvei-te dos laivos de tuas incúrias...
Mas hoje seguimos em rumos contrários;
embora tão sós, cada qual em seu mundo,
guardamos relíquias nos mesmos armários...
Sozinhos a dois, mergulhando profundo
no abismo da angústia, senões arbitrários,
velando um amor que sucumbe, infecundo.