MEDUSA
Edir Pina de Barros
 
De mármore, decerto, tu és feito,
impenetrável, como mar profundo,
distante dessa vida, de meu mundo
ainda que te deites em meu leito;

eu olho teu semblante e, triste, espreito,
o teu olhar, tão gélido, infecundo,
não vejo a alma tua lá no fundo,
apenas labirinto frio e estreito.

Às vezes me pergunto - e mesmo cismo –
se cavei, sem querer, tamanho abismo
que agora, entre nós dois, está exposto.

Tornei-me vil Medusa poderosa?
Maldita e soberana?  Caprichosa?
Eu transmutei em mármore teu rosto?
 
Brasília, 04 de Setembro de 2011.

Livro: Sonetos diversos, pg.30
Sonetos selecionados, pg. 24
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 04/09/2011
Reeditado em 22/06/2020
Código do texto: T3199590
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