O PASSATEMPO
Vem-me o tempo passando igual à brisa,
manso e descontraído que nem vejo.
No meu recanto sopro o realejo,
e imagino um mundo sem divisa.
Já não busco a esperança, nem precisa,
a mim, a pretender. Não mais desejo
do que o manso soneto no solfejo,
delicado soprar de gaita à brisa.
Quando o tempo fechar-se sobre mim,
não levará senão um Serafim
para o nada que encerra a mansa vida.
Fui poeta, sonhei. Não pude o mundo
que o sonho idealizou, menos imundo
do que vivi e deixo na partida...