O câncer
Salutares esses momentos que vivo...
Sem dor, sem gozar de sua pobre companhia.
Companhia nefasta de ulcera agonia.
Com poucos intervalos onde revivo.
Eis o mar vermelho de naufrago de antros.
Nau sem rumo, sem vela nas plagias da dor.
Acostuma-te pois o repouso é de breve cor:
Cinza, amarelo pus no retorno do cancro.
Valorizar a paz que tinha é a tal lição.
Só se aprende perdendo em meio ao nada;
Restando a revolta seguida de aflição.
Alguns se tornam mais vivos por dentro;
Usam as chagas como forjas de si mesmas
E para o tempo perdem a vida, mas não o centro.