SAUDADE
Marcos Loures

Se eu falar de saudade, diga nada,
É simplesmente verso sem sentido,
Amando vou levando, de empreitada,

O tempo que jamais achei perdido.
Das horas nem por ora faço caso,
Em meio a tantas farsas, em me embraso...
Sem fleuma, sem vergonha, mentiroso,
Invento dores, falsas cãs atéias.
Meu mundo nem sequer é sulfuroso,
Não tive nem rainhas nem plebéias,
Sou resto, rimo sempre por rimar,
Nem tenho céu, quiçá terei luar...
No jogo da permuta me lasquei,
Troquei não ser feliz por fantasia,
Confesso então, vadio já pequei,
Nem esperei sequer raiar o dia,
Montei no meu cavalo e fui embora,
Não soube nem talvez irei agora.
Quem sabe, na manhã que vai nascer,
Eu possa, simplesmente ser feliz,
Procuro em toda moça por você,
Cadê? Onde andará a minha miss...
Então por não saber dessa Maria,
Desconto na cachaça – poesia!


SAUDADE E POESIA
Edir Pina de Barros

Se de saudades eu falar não digas nada,
é coisa de poeta despertando a lira,
que finge, inventa e a roda da fortuna gira,
e trás, dentro de si, a noite enluarada.

Saudade é como o fogo d’uma enorme pira,
a reluzir no escuro, em noite aveludada,
que perde o lume  quando chega a madrugada
mas, mesmo agonizante, dentro em nós suspira.

Já disse o menestrel: poeta é um fingidor
que finge bem demais e tão completamente
que finge até ser dor a dor que dentro sente.

Poeta os versos lavra, nasceu lavrador,
aduba o imo seu com mágoa e nostalgia
e planta em si saudade p’ra colher poesia.

MARCOS LOURES

Cevando esta saudade no meu peito,
Eu sigo o meu caminho e sei das tramas
Enquanto invadem sonhos, vida, leito,
Aumentam dissabores, lutas, dramas,
Mas sei que no final em verso enfeito
Efeitos que produzem tantas chamas
E quando noutro instante tu me chamas
Tocando com ternura o velho peito,
Em sonho mais felizes já me enfeito
Enredo-me deveras nestas tramas,
E mesmo quando veja meros dramas,
A poesia chega e toma o leito,
Nos rios da esperança, cada leito,
Nas sendas mais audazes fúrias, chamas,
E superando assim diversos dramas
A vida renascendo no meu peito,
E tanto quanto possa também tramas
O mundo em cujas luzes vãs me enfeito
Palavra que deveras quando enfeito
Traslado para junto a mim, no leito,
Enredando o caminho nestas tramas
Mantendo da alegria fartas chamas
Viceja dentro da alma, no meu peito,
Supera o quanto houvera em rudes dramas
.A vida traz em si diversos dramas,
Porém sendo um poeta logo enfeito
O quanto resistisse neste peito
Singrando este infinito desde o leito
E quando em noite imensa tu me chamas,
A vida se refaz em belas tramas,
Enredam-se decerto as tantas tramas
Aonde se sentiram tantos dramas
E nisto resumindo nossas chamas
O pensamento enfim agora enfeito
E faço da alegria no meu leito
Razão que traz a paz ao rude peito,
E quando no meu peito sinto as tramas
Tocando neste leito medos, dramas,
Meu sonho em luz enfeito, quando chamas...

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 05/08/2011
Reeditado em 25/01/2013
Código do texto: T3142019
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