CRUZ

Aparta-te de mim, versar plangente,

não quero-te no sangue, ó vilania!

Afasta a lava tua incandescente

dos meus floridos vales de poesia.

Anseio o verso brisa assim macia,

de sol, brandura, sonho displicente,

luares claros, leve melodia,

de inspirações singelas, inocente.

Ah, vai-te com saudade toda em dor

montada no teu dorso, a parasita.

Liberta meu poema, cruz maldita!

Ai, que ilusão estéril! É impossível

versar asinha, anjinho, céu incrível

a um ser abandonado pelo amor.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 17/06/2011
Reeditado em 06/09/2016
Código do texto: T3039954
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