TARDE TRISTE

Brilhava a tarde azul, clara e tão bela,

antes que o sol caísse no poente

de ouro, prata e vermelho na aquarela

do anoitecer. Gemia a luz tremente...

Gemia! E se gemia, certamente,

estava dolorida como a vela

que pinga a cera piedosamente,

no velório tristonho da donzela...

A tristeza da tarde é como a espiga

que murcha no trigal, e peca, e mirra,

porque não chove e o sol queima e castiga.

Velório de donzela e tarde triste...

A noite engole o dia, e a vela espirra

um gemido e se apaga, não resiste...