ÚLTIMO SONETO
ÚLTIMO SONETO
Jaz a morte a meu lado no leito, que horror,
lívida e ofegante, me fala de estertores
diz-me do corpo enfermo; me alerta das dores;
por troça toma-me a mão e oferta uma flor..
faz mais a morte, faz-me sentir dissabores
uma lenta agonia com muito calor
e meu corpo em frêmitos lavou-se em suor
fui branco e fui verde; fui lividez a cores.
E mesmo arfante, me ri na cara da morte
Disse eu que a vasca da morte é início da vida
Que a morte, prelúdio do azar, da alma é sorte
Se o corpo é instrumento que o espírito valida
liberando energia, faz o homem ser forte;
a cinza do corpo é chama que acende a vida.
Afonso Martini
210211