SOLITUDE DO LOBO
SOLITUDE DO LOBO
Estou solitário na orla da mata
carente de afeto, à margem de todos;
receio os pendores dos jovens lobos
lento, enciumado, que vida ingrata!
Lúcido, embora e brandindo meus rodos,
faço que não é a angústia que maltrata.
Longe das fontes, sou bibelô de lata
mas tento inserir-me por quaisquer modos.
Mas qual! Busco e retenho a hora que passa
Oh, tempo! És de outros, em viço e fulgor,
nostálgico emblema de humana praça.
Do belo à margem, sem cor nem sabor
estou um lobo manhoso que honra a raça
nas coisas d’alma que falam de amor.
Afonso Martini
190211