E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...

Florbela Espanca


Queixumes

A vida se passou nos vãos do tempo vil,

depressa como a doce brisa vem e passa,
deixando dentro em mim somente pó, fumaça,
e tantos sonhos mortos, tanta dor hostil!
 
Felicidade foi tão pouca, tão escassa,
e nem a vi, pois foi raríssima, sutil,
a vida foi passando a cada mês de Abril
e agora estou cansada dessa vil devassa.

Os dias se passaram! Foram tristes! Rudos!
De nada me valeram todos meus escudos,
saí demais ferida dentro de meu ninho;

ficaram pelo ar as sobras de carinho,
o colo da saudade, sobre o qual me aninho,
perdidos em meus lábios tantos beijos mudos.

Brasília, 08 de Fevereiro de 2011.

 Livro: SONETOS DIVERSOS, pg. 32
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 08/02/2011
Reeditado em 19/08/2020
Código do texto: T2779764
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