Quem sabe as águas levam ...

Perguntam eles no que penso

Se me quedo aqui calado.

Penso no mundo arrasado,

Neste horror diário, imenso

Em que vivo sem escolha.

Como não estar quieto

Imerso em meus pensamentos

Se são fortes sentimentos

De tristeza que me invadem?

São dores da violência

Que corrompem a inocência,

Fazem vítimas sem clemência

E nos deixam em impotência:

Balas perdidas que matam,

Que ferem, aleijam, maltratam,

Seifam vidas sem razão.

E nós culpamos o tráfico

A droga, a pobreza, o hábito

Pra muitos cruel opção.

E então, se me alieno

No pessoal e lamento

Por não ter mais e melhor;

Se olho pro próprio umbigo

Esqueço o irmão e arribo

Não posso nem criticar.

Choro esse mundo querido

Berço, país e abrigo

Que hoje é praça de guerra.

Que vou dizer pro meu filho

Que caminho ou que trilho

Vou poder lhe apontar?

Se o que me envolve é a morte

Como vou falar de sorte

De conquistar um lugar?

Que esperança eu darei

Pras crianças, se não sei

O amanhã o que será?

Se já nem tenho a certeza

Do bem vencendo a crueza

Como posso educar?

Como posso convencer

Que nós temos que vencer

Se tudo aponta pro caos?

Se já não temos sossego

E se vemos nosso apego

Destruído sem compaixão?

Time, novela, diversão?

Só me resta dizer não

A toda a alienação.

Enquanto no coração

Bate a crença por viver

Não me deixarei vencer

Sem ao menos bem gritar

Que é preciso mais amar

De verdade libertar

A justiça, a bondade

De viver com lealdade

O direito de mais ser

De optar, de escolher

O que queremos deter

E o que convém recusar...

Se eu for correto e verdadeiro

Se não visar só dinheiro

Se for um bom companheiro

Meu amigo o travesseiro

Far-me-á dormir e sonhar.

E vou poder construir

Outro mundo que há de vir

A ser um melhor lugar

Pra criar minha família

Pra ver crescer minha filha

E ver meu neto brincar.

Helena de Santa Rosa

Niterói, 09 de novembro de 2010.

16:11

Helena de Santa Rosa
Enviado por Helena de Santa Rosa em 09/11/2010
Código do texto: T2606002
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.