"VELHINHOS"
E vai fugindo o tempo. E, aos poucos, vem chegando,
Ai, vem chegando a idade em que eu serei velhinho,
Sopra o vento lá fora, as árvores curvando
E, em busca de outro lar, deserta o passarinho
- Ai, que frio! - eu murmuro. E, cheia de carinho,
Te chegas para mim, as minhas mãos tomando.
Ai, que frio, meu Deus! - torno a dizer baixinho,
De teu colo moreno as rugas contemplando.
E a lamparina estala e, trêmula, esmorece...
Lá fora, o temporal, bramindo, recrudesce
E solta, finalmente, os últimos arrancos...
E à luz crepuscular, que te sombreia os traços,
Tenho assomos de moço: aperto-te em meus braços
E beijo, apaixonado... os teus cabelos brancos.
(*) Velhinhos, de MENDES MARTINS (1876-1915).