"NOITE TROPICAL"
Desceu
a calma
noite
irradiante,
Sobre
a floresta
e os vales
semeados:
Já ninguém
ouve os
cantos
prolongados
Do negro
escravo,
estúpido
e arquejante.
Dorme a fazenda:
- apenas hesitante
A voz do cão, em uivos assustados,
Corta o silêncio,
e vai nos descampados
Perder-se
como um grito agonizante.
Rompe o luar,
ensanguentado
e informe,
Brotam fantasmas da savana nua...
E, de repente,
um berro desconforme
parte da mata em que o luar flutua,
E a onça,
abrindo a rubra fauce enorme,
geme na sombra, contemplando a lua...
(Em forma de Soneto):
Desceu a calma noite irradiante
Sobre a floresta e os vales semeados:
Já ninguém ouve os cantos prolongados
Do negro escravo, estúpido e arquejante.
Dorme a fazenda: - apenas hesitante
A voz do cão, em uivos assustados,
Corta o silêncio, e vai nos descampados
Perder-se como um grito agonizante.
Rompe o luar, ensanguentado e informe,
Brotam fantasmas da savana nua...
E, de repente, um berro desconforme
Parte da mata em que o luar flutua,
E a onça, abrindo a rubra fauce enorme,
Geme na sombra, contemplando a lua...
(*) Noite Tropical, de LUÍS GUIMARÃES (1845-1898).