"DUAS ALMAS"

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,

entra, e, sob este teto encontrarás carinho:

Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,

vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,

e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra... ao menos até que as curvas do caminho

se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,

essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,

podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:

Há de ficar comigo uma saudade tua...

Hás de levar contigo uma saudade minha...

(*) Duas Almas, de ALCEU WAMOSY (1895-1923).

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 16/10/2009
Reeditado em 16/10/2009
Código do texto: T1868944
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