"A V A T A R"
Antes, a alma que tenho andou perdida.
Porque mundos rolou, que mão sutil
Pôs tão nobre fulgor, e estranha vida,
Nesse bocado de ouro e barro vil?
Decerto, árvore foi: verde jazida
De ninhos, sob o céu de espuma e anil,
E foi grito de horror, na ave ferida,
E, na canção de amor, sonho febril!
Foi desespero, sofrimento mudo,
Ódio, esperança que tortura e inferna;
E, depois de exsurgir, triste, de tudo,
Veio para chorar dentro em meu ser,
A amarga maldição de ser eterna,
E a dor de renascer, quando eu morrer!
(*) Avatar, de RONALD DE CARVALHO (1893-1935).