Suicidou-se

Ainda que sente em suma morte,

Os olhos enxergam o fim ao leito

Não se observa a bater do peito

Quando se dá coração à vil sorte;

Entregou-se ao medo de ser forte

E hoje delega-se ao verme inteiro

Queria, pois, ter amor bem desfeito

Antes de dar aos pulsos vis cortes.

Agora se embriaga na lembrança só

De quem morre sozinha no derradeiro

Suspiro de amor sofredor e matreiro;

Agora na morte anuncia-se ser pó

E em inferno abraça-se ao candeeiro

Do silêncio eterno, morno e sorrateiro.

Valdemar Neto
Enviado por Valdemar Neto em 19/09/2009
Código do texto: T1819416
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