INDIFERENÇA

O velho sentado na calçada,

sujo, maltrapilho e vagabundo,

carrega uma tristeza abraçada,

e pede o teu afeto em um segundo.

Aquele velho homem te implora,

um só gesto de fraternidade.

Derrotado, sequer ele chora,

a mão estendida, por caridade.

E conceder a mísera esmola

enche teu peito de tolo louvor,

migalha que ao coração consola...

O mendigo agradece o teu favor,

sem dizer sobre a dor que o degola:

Comer o pão, quando a fome é de amor.

*Dedico este soneto a Elen Nunes, pela professora que "quase" sempre me obriga a fazer sonetos "certinhos", mas, acima de tudo, pela excepcional figura humana que é.

A você Elen, o meu abraço, o meu respeito e esta "migalha" da minha amizade.

O presente da amiga Elen:

Este velho, que espera no caminho,

por um pouco de carinho que não sente,

reconhece sua dor e ela é somente,

pelo amor que se nega ao ser sozinho.

A mão que estendida já denota,

um coração infeliz e magoado,

mas há dores maiores no irmão ao lado,

que na face, às vezes nem se nota.

“O poeta é fingidor”, disse o Pessoa,

não revela sua verdadeira dor,

encobre-a com versos de amor à toa.

Poeta e velho tem igual sentimento.

Sofrem calados por um desamor,

pois o amor, só existe em pensamento.