O homem que sabia demais
Como no filme homônimo, o personagem do livro O homem que sabia demais de David Leavitt morre envenenado. A diferença é que o livro, diferente do filme de Alfred Hitchcock narra uma história real, a de Alan Turing, um gênio da matemática, um dos grandes pioneiros no campo da computação, que ajudou os aliados a desvendar os códigos secretos nazistas.
A biografia, recém-lançada pela Novo Conceito, retrata de forma bem sensível Turing, suas excentricidades, seu brilhantismo, sua franqueza, sua sexualidade. Como um romancista que é, Leavitt, descreve em toda a sua essência, a vida pungente desse gênio de nosso século, tão pouco reconhecido. Nessa nova biografia de Turing, o autor confronta com a tarefa de dar uma nova visão de uma vida, que já foi examinada em outras vezes, como por sua mãe, que escreveu um livro sobre o filho após sua morte ou por Andrew Hodges, com seu Alan Turing: The enigma.
Suas 224 páginas, mostram a trajetória desse brilhante matemático, nascido em 1912 na cidade de Londres, era filho de um oficial, que deste cedo se mostrou um gênio da ciência. Estudou no King's College, Cambridge, and Princeton, ao se formar, dedicou-se a Teoria da Computabilidade, que acreditava na incapacidade da mente humana para armazenamento de dados e na necessidade de criação de uma máquina que pudesse realizar esse trabalho. Assim, aos 24 anos, consagrou-se na projeção de uma máquina que o levaria ao campo da Inteligência Artificial (I.A.). Sob sua liderança, em 1943, foi construído o Colossus, aparelho que quebrou o código Enigma dos nazistas, que foi a base da moderna Informática. Após a Segunda guerra, vai aos EUA, trabalhar em um projeto de transmissão de dados transatlânticos de forma segura, formulou também, nesse período, o famoso teste de Turing, que desafia o pensamento humano. Contudo, sua fama e genialidade, foram interrompidas por se declarar homossexual, fora preso e humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores e condenado a terapias à base de um hormônio feminino, um tipo de castração química que também fazia crescer os seios. Deprimido, aos 41 anos de idade, faleceu após ter comido uma maçã envenenada com cianeto, que foi divulgada pela imprensa como suícidio.
Com uma narrativa sensível, para não dizer lírica em alguns pontos, com grande compaixão elabora uma biografia pungente sobre um homem complexo, a frente de seu tempo, envolvido de tal maneira a sua obra científica que não acessou as implicações de suas declarações.
Traduzido do inglês The man who knew too much: Alan Turing and the invention of the computer, por Samuel Dirceu. Vale a pena ler essa elegante história desse gênio, que somente há alguns anos foi reconhecido pela comunidade científica.