O Castelo Branco de Orhan Pamuk
Apesar de ter ganho o Prêmio Nobel da Literatura em 2006, o turco Orhan Pamuk em seu pais sofreu ameaças de morte devido a seus livros e críticas que falam de anos de segregação e genocídio do passado histórico da Turquia. Comparado A Jorge Luis Borges e Italo Calvino, o escritor é uma das figuras mais interessantes no meio literário da atualidade, um grand econtador de história que
A editora Companhia das Letras traz o primeiro romance que deu a Pamuk fama mundial, O Castelo Branco (Beyaz kale, tradução de Sérgio Flaskman com base da tradução inglesa de Victoria Halbrook: The white castle e a versaõ francesa de Munevver Andac: Le chateau blanc), uma narrativa histórica passada no século XVI sobre um italiano que chega ao Império Turco-otomano como escravo e encontra a redenção como conselheiro direto do sultão.
O Castelo Branco é uma breve história, um diálogo livre sobre modernização e suas ironias. Originalmente publicado na Turquia em 1985, o livro possui um prefácio fictício de um tal Faruk Darvinoglu que descobriu um manuscrito em um arquivo empoeirado da capital turca. No manuscrito está a história de um jovem veneziano, um engenheiro que viaja de Veneza para Nápoles, que narra como foi capturado e levado prisioneiro por piratas turcos, para o mercado de escravos em Istambul. Na antiga Bizâncio se torna o escravo de um outro estudioso, porém ainda um aspirante, conhecido como Hoja (professor ou mestre), um homem com sua mesma idade e com quem tem uma forte semelhança física. Hoja é um homem obcecado para restabelecer a superioridade do Império Otomano perante os europeus, querendo dominar a ciência dos mestres do Renascimento, e força o narrador-protagonista a ensina-lhe tudo que sabia, começando com a filosofia, indo da astronomia a medicina.
Juntos, passam as próximas décadas engajados em diversas investigações pseudo-intelectuais sobre quase tudo, constroem armamentos e brinquedos com fogos de artificio para o jovem Sultão e passam a viver entre sua casa e os jogos da nobreza otomana, atraindo a inveja de muitos. Com a chegada de uma praga, que é talvez, interrompida por medidas de saúde pública instauradas pelo narrador, os dois possuem cada vez mais respeito do líder dos turcos. E Hoja ver a oportunidade de colocar suas idéias em prática, construir uma arma poderosa para ser usada na campanha contra os poloneses e o epônimo inexpugnável Castelo Branco. Um trecho do livro que mostra essa relação é o seguinte: "(...)E finalmente chegamos a um ponto de onde se via o castelo. Erguia-se no alto de um morro bem elevado; a luz enviesada do sol poente tingia de um vermelho desbotado os estandartes hasteados nas suas torres. E era branco; imaculado e belo(...)" página 177
Pamuk coloca nas páginas de O Castelo Branco, a frustração, o atraso, a claustrofobia e a futilidade em seus personagens que vivem e movem-se em relação aos seus sentimentos de perda. O próprio Faruk, para quem não conhece a obra de Pamuk, saberá que é o protagonista de um livro anterior, um truque intertextual que lembra as obras de Calvino e Borges. Um enredo simples que no último capitulo desafia o leitor e coloca que os dois personagens são os aspectos de uma única pessoa. O autor se interessa nos temas natureza da identidade e a colisão de culturas, bem como a própria natureza da realidade, evidenciado tanto em O Castelo branco como em outras obras suas. Contudo, nesse novo livro a tensão entre Ocidente e Oriente é tratada de forma bastante superficial, como vemos nos gostos ocidentais de Hoja e do Sultão, uma sátira da fluidez do caráter nacional turco. Por fim, uma boa introdução ao particularmente importante escritor turco que muitos têm comparado com Eco, Kafka, Borges, Calvino e Kundera, uma leitura gratificante para quem gosta do estilo.