Dias e noites de amor e de guerra -
Uma releitura que valeu a pena.
Eduardo Galeano escritor e jornalista uruguaio é o autor deste livro que reli há pouco tempo. Minha edição é antiga, de 1979. O livro está bem velhinho, as páginas marcadas. A editora é a Paz e Terra e o tradutor é Eric Nepomuceno, amigo pessoal de Galeano e personagem de alguma de suas histórias.
Eduardo Galeano ficou famoso com o livro Veias Abertas da América Latina, ícone da luta pela liberdade na América Latina durante o auge dos regimes opressores de direita no continente. Foi o livro de cabeceira de muitos jovens que acreditavam em um mundo melhor, onde os homens poderiam ser livres e tratados com dignidade.
Dias e Noites de Amor e Guerra é um livro no mesmo estilo, impregnado de indignação e lirismo. Não é um livro de contos, não é um livro de crônicas, nem é um livro de poesias. Mas histórias tristes se tornam contos tristes, a vida cotidiana entre homens oprimidos são crônicas com tanta ternura que também poderiam ser transformados em poemas. Reportagem? Pode ser. Mestre da síntese, Galeano coloca o dedo na ferida sem salamaleques.
O livro foi escrito no exílio. É formado por textos curtos. Sonhos reais e imaginários. Memória. Para que ninguém esqueça. Um livro onde os bandidos eram os governantes.Pelo menos para nós. Hoje, os homens oprimidos pelos governos totalitários são o governantes, na maioria dos países onde os acontecimentos narrados por Galeano se passaram. Ocupam o poder. Reflito sobre o pensamento atual do autor. O que será que ele pensa das mudanças políticas que ocorreram nesses países ? Como ele vê o resultado de sua luta e a de tantos outros homens, muitos dos quais chegaram a perder a própria vida?
Muita coisa mudou. Hoje, ninguém desaparece de sua casa na madrugada, para não mais reaparecer, porque é considerado um inimigo do país. Porque escreveu um artigo suspeito. Ou uma canção. Mas é sequestrado por criminosos comuns que exigem resgate. Hoje a luta é outra. É a luta contra o crime de bandidos comuns, mas é também a luta contra a corrupção nos governos. Os governos que são ocupados hoje por nossos intrépitos heróis, cavaleiros do bem que lutavam contra o mal. Heróis que conseguiram o poder mas não conseguiram se livrar do mal.Estaria o nosso autor tão decepcionado quanto nós, seres comuns, com as mudanças que ocorreram, ou tenta esconder de si mesmo a decepção com a podridão moral de nossos governantes?
Minhas reflexões porém não invalidam a beleza do livro.Só que a esperança de um mundo realmente melhor é um sonho ainda distante. O sol não está atrás das grades mas se esconde envergonhado por tanta podridão. E os Dias e Noites de Amor e de Guerra continuam.
Uma releitura que valeu a pena.
Eduardo Galeano escritor e jornalista uruguaio é o autor deste livro que reli há pouco tempo. Minha edição é antiga, de 1979. O livro está bem velhinho, as páginas marcadas. A editora é a Paz e Terra e o tradutor é Eric Nepomuceno, amigo pessoal de Galeano e personagem de alguma de suas histórias.
Eduardo Galeano ficou famoso com o livro Veias Abertas da América Latina, ícone da luta pela liberdade na América Latina durante o auge dos regimes opressores de direita no continente. Foi o livro de cabeceira de muitos jovens que acreditavam em um mundo melhor, onde os homens poderiam ser livres e tratados com dignidade.
Dias e Noites de Amor e Guerra é um livro no mesmo estilo, impregnado de indignação e lirismo. Não é um livro de contos, não é um livro de crônicas, nem é um livro de poesias. Mas histórias tristes se tornam contos tristes, a vida cotidiana entre homens oprimidos são crônicas com tanta ternura que também poderiam ser transformados em poemas. Reportagem? Pode ser. Mestre da síntese, Galeano coloca o dedo na ferida sem salamaleques.
O livro foi escrito no exílio. É formado por textos curtos. Sonhos reais e imaginários. Memória. Para que ninguém esqueça. Um livro onde os bandidos eram os governantes.Pelo menos para nós. Hoje, os homens oprimidos pelos governos totalitários são o governantes, na maioria dos países onde os acontecimentos narrados por Galeano se passaram. Ocupam o poder. Reflito sobre o pensamento atual do autor. O que será que ele pensa das mudanças políticas que ocorreram nesses países ? Como ele vê o resultado de sua luta e a de tantos outros homens, muitos dos quais chegaram a perder a própria vida?
Muita coisa mudou. Hoje, ninguém desaparece de sua casa na madrugada, para não mais reaparecer, porque é considerado um inimigo do país. Porque escreveu um artigo suspeito. Ou uma canção. Mas é sequestrado por criminosos comuns que exigem resgate. Hoje a luta é outra. É a luta contra o crime de bandidos comuns, mas é também a luta contra a corrupção nos governos. Os governos que são ocupados hoje por nossos intrépitos heróis, cavaleiros do bem que lutavam contra o mal. Heróis que conseguiram o poder mas não conseguiram se livrar do mal.Estaria o nosso autor tão decepcionado quanto nós, seres comuns, com as mudanças que ocorreram, ou tenta esconder de si mesmo a decepção com a podridão moral de nossos governantes?
Minhas reflexões porém não invalidam a beleza do livro.Só que a esperança de um mundo realmente melhor é um sonho ainda distante. O sol não está atrás das grades mas se esconde envergonhado por tanta podridão. E os Dias e Noites de Amor e de Guerra continuam.