Eu falar bonito um dia - David Sedaris
ÓTIMO: muito mim gostar desse livro
David Sedaris – Eu falar bonito um dia, SP, Companhia das Letras, 2008, 248 páginas
Algumas coisas que escrevi sobre David Sedaris tempos atrás quando li Pelado (editora Lugano, 2003) também valem para este livro: “seu humor às vezes lembra um pouco as histórias de Woody Allen (...) ao escrever sobre os parentes ou a comunidade onde nasceu e cresceu.”
E continuava dizendo que Sedaris demonstrava seu imenso senso de humor ao narrar situações que realmente aconteceram com ele ou com alguém próximo ou que foram inventadas por ele, não importava. Mesmo quando elas não eram plenas de humor, Sedaris tinha um jeito especial de contá-las que as tornava interessantes sempre.
Eu Falar Bonito Um Dia (2008) é dividido em duas partes. Na parte Um, bastante autobiográfica, Sedaris, como no livro anterior, fala novamente de si e de sua família ou conhecidos especialmente em Raleigh, Carolina do Norte, uma cidade de poucos atrativos mas que vista por seus olhos se torna um lugar pitoresco e cheio de personagens curiosos para o leitor. São treze histórias nesta parte; destaco um trecho de A Curva de Aprendizado:
“Um ano depois da minha formatura na faculdade (...), um terrível equívoco foi cometido e me ofereceram um cargo de professor numa oficina de redação. (...) Assim como marcar gado ou embalsamar mortos, dar aulas era uma profissão que eu nunca considerara a sério. Eu era claramente desqualificado, mas aceitei o emprego sem hesitação, pois me permitia usar uma gravata e ser tratado por sr. Sedaris. (...) O cargo foi oferecido na última hora, quando o professor contratado achou um emprego mais rentável na entrega de pizzas.”
Na parte Deux, mais engraçada, são catorze histórias com suas impressões sobre a França, a língua francesa, os franceses em geral e americanos fazendo turismo no país (este um texto muito, muito engraçado). Sedaris passou algumas temporadas na França, em Paris ou num vilarejo na Normandia, na casa de um amigo americano que lá morava. Dessas experiências é que veio o título do livro, uma história sobre seu esforço, aos quarenta e um anos, para aprender francês com uma professora parisiense sádica. Outro trecho de Eu Falar Bonito Um Dia:
“Amontoados nos corredores [da escola] e tirando o máximo de nosso francês patético, eu e meus colegas estudantes produzíamos diálogos do tipo comumente entreouvido em campos de refugiados.
“Às vezes mim chora sozinho de noite.”
“Isso ser comum para eu, também, mas seje mais forte, você. Muito trabalho e um dia você fala bonito. As pessoa começa a te amar logo. Talvez amanhã, tá bem?””
Quer dizer, ninguém vai gargalhar lendo este livro, nem todas as histórias são lá tão engraçadas pois não é um volume de anedotas. Mas várias delas são hilariantes porque coisas estranhas ou absurdas aconteceram com o autor ou foram imaginadas por ele a partir de fatos reais muitas vezes. Ou ainda porque Sedaris sabe contá-las como poucos, com sua narrativa plena de humor inteligente. E assim, mim gostar desse livro muito, eu diria imitando Sedaris.