Quem tem medo de Virginia Woolf - Edward Albee
Edward Albee - Quem tem medo de Virginia Woolf, SP, Abril Cultural, 1977
O titulo dessa conhecida peça tem a ver com a cantiga infantil “Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau...” Como sabemos, lobo em inglês é wolf, daí a menção ao Woolf da escritora inglesa; todos os personagens têm nível intelectual acima da média, digamos, então se permitem a brincadeira. Durante o desenrolar dos três atos várias vezes eles cantam a cantiga trocando wolf para Virginia Woolf para reagir a algo numa determinada situação. Funciona como um comentário, para simplificar a coisa.
Claro que seria melhor ver a peça teatral (1962) ou o filme homônimo nela baseado (que é de 1966). Mesmo assim, apenas a leitura do texto de Edward Albee (1928-2016) é capaz de deixar o leitor eletrizado, tamanha a carga dramática que o autor colocou em cena. São quatro personagens apenas, dois casais - George e Marta, ambos de meia-idade e seus visitantes, bem mais jovens, Nick e Honey (Benzinho) - reunidos na casa dos primeiros numa madrugada de muita bebedeira e destilação de amor e ódio.
Todos eles têm formação universitária e padrão econômico elevado: o pai de Marta é reitor da universidade onde George chefia o departamento de História; Nick acaba de ser contratado para o departamento de Biologia da mesma instituição. A conversa pode descambar de uma assunto altamente intelectual para as prostitutas do Rio de Janeiro, conforme faz George a certa altura. Nada os impede de proferir inúmeras baixarias e até mesmo partir para a violência física quando as palavras já não são suficientes para ferir o outro.
George e Marta ao mesmo tempo se amam e se odeiam, não podem viver um sem o outro: eles se completam. Nick e Honey acabam envolvidos na relação explosiva dos dois, o texto teatral pega fogo e quem pode ver a peça ou o filme certamente teve uma experiência de espectador como poucos. Quem não, pode ler o livro e quase terá a mesma coisa. Penso que sim.