O livreiro de Cabul


        O Livreiro de Cabul, best-seller no mundo todo, foi escrito pela jornalista norueguesa Asne Seierstad ,produto da hospedagem da autora na casa do livreiro Sultan Khan(nome fictício), em Cabul, no Afeganistão, durante três meses.O livro retrata a vida da família traçando um perfil doloroso da classe média afegã.

      O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo. Está localizado no centro-sul da Ásia e seu tamanho pode ser comparado a duas vezes o Maranhão. Com uma população de aproximadamente vinte e três milhões de pessoas, mais ou menos dez por cento são nômades e apenas vinte por cento vivem nas cidades. O clima é desértico e semi-árido . O país é cortado ao meio pela Cordilheira Hindu- Kush com altitudes médias de mais de quatro mil metros, chegando a alcançar mais de sete mil metros nas partes mais altas. Essas montanhas constituem uma barreira e esconderijo natural. Cerca de noventa e nove por cento da população é islâmica. A sociedade é basicamente dividida em tribos e clãs.Até o onze de setembro, quando se descobriu que Bin Laden, hóspede do governo afegão, era o responsável pelo ataque terrorista a várias partes dos Estados Unidos, o país era governado pelos Talibãs(movimento religioso islâmico, cujo objetivo era governar o país através de leis religiosas extremamente rígidas).Com essa descoberta, os Estados Unidos deram fim ao poder dos Talibãs e a vida no Afeganistão ficou melhorzinha – foi então, que Asne Seierstad se tornou hóspede de um livreiro que conhecera em Cabul. Ela se encantou com seu liberalismo e idéias avançadas, com suas tragédias comerciais (viviam queimando seus livros ) e na Primavera de 2002 foi morar com sua família em Cabul, a capital do país.
      Bem, uma coisa é ser liberal na rua, outra é ser liberal em casa. Sultan khan vivia com sua imensa família, mãe, duas esposas,cinco filhos,quatro irmãos, todos governados com mãos de ferro pelo tirano . Seu apartamento tinha quatro cômodos e todos viviam ali. E o homem pertencia a classe média, era dono de uma rede de livrarias.As mulheres da família (exceptuando a segunda esposa,jovem e burra e a mãe, gorda de fazer dó) trabalhavam como escravas, sem nenhum direito. As crianças também, desde cedo tinham que se ocupar do trabalho, a escola não era uma prioridade. .

       No livro a autora faz o seu trabalho jornalístico de uma forma lírica. Ela simpatiza com aquelas pessoas e sua vida dura e vai contando as suas histórias sob vários pontos de vista. Ela não interfere, ela observa e depois tenta retratar os sonhos, as desilusões, as alegrias e as tristezas de todos aqueles com os quais conviveu.Várias vezes me vi tentada a parar a leitura, tão triste que é. Mas cheguei até o fim e achei o saldo positivo. O saldo da leitura, é claro, pois a vida no Afeganistão é uma desgraça só. Mulheres e crianças não têm nenhum valor como ser humano. Mulheres principalmente. Apaixonar-se, por exemplo, é proibido. Sem direito ao amor, sem direito a escolha. Objetos de troca e venda. Seus únicos escapes são o suicídio e as canções. Canções que cantam para ninguém ouvir. Um poeta afegão, Sayed Bahoudin Majrouh, com a ajuda de sua cunhada, recolheu algumas dessas canções. São feitas de versos curtos e ritmados “como um grito ou uma facada”. Acabou assassinado, mas Asne põde recolher alguns versos, que transmite em um dos capítulos do livro. Vejam este:

“ Pessoas cruéis vêem um velhinho
a caminho de minha cama.
E ainda me perguntam
Por que choro e arranco os cabelos?”

Ou esse:

 “Era bela como uma rosa
  Debaixo de ti fiquei amarela como uma laranja”.

      E, no livro tem muito mais exemplos como estes que mostram como as vezes as jovens mulheres preferiam morrer a se verem casadas com velhos gordos, carecas e desdentados.

        O que se comenta hoje, na mídia, é que o livreiro que inspirou a história teve seu castigo merecido. Suas mulheres deram no pé com seus filhos e hoje ele processa a autora reivindicando prejuízos morais. Prejuízos financeiros ele não teve pois também escreveu um livro, relatando o seu lado da história: Eu sou o livreiro de Cabul. Espero que a saga pare por aí, senão vamos ter Eu sou a esposa do Livreiro de Cabul, ou o filho, ou a irmã, etc..e tal..