O Zen e a Arte da Escrita, de Ray Bradbury
Livro em forma de curtos e super acessíveis ensaios sobre a escrita, nos quais o autor defende a todo momento o ato de escrever como um ato de paixão e de verdade (sobretudo a verdade sobre si mesmo enquanto escritor).
E apesar de não ser um manual sobre como escrever, há sim algumas dicas/reflexões bem interessantes. Algumas são mais conceituais, tipo:
- escrever é (ou deveria ser, né) sobre prazer e entusiasmo, mesmo que nascidos de nossa raiva e preconceitos;
- escrever é um exercício de espontaneidade, com liberdade de acesso ao 'sótão' da nossa consciência;
- o que faz um escritor é a escrita, não o mercado ou o reconhecimento.
Outras são mais práticas, tipo:
- histórias devem conter tensões armadas, intencionalmente, para explodir nas mãos do leitor;
- a quantidade faz a qualidade, então escreva por hábito, por rotina, até superar a dificuldade típica de quando é preciso 'entrar no clima' toda vez que se senta para escrever.
E algumas são baseadas na longa experiência do autor:
- inspiração vem do estoque do que lemos, vivemos e observamos;
- um fato marcante vivido hoje pode, somente daqui uns bons anos, 'renascer' como uma história a ser escrita;
- a escrita flui quando escrevemos com respeito a nossa individualidade, sem pose, sem 'querer ser x ou y'.
Fica evidente que a pegada do Bradbury com a escrita é bastante apaixonada (idealizada, diriam alguns), então os ensaios aqui contidos têm um quê bastante motivacional. Não que isso seja um demérito, mas é algo que indica as limitações dos ensaios, inclusive porque o tempo de hoje é absurdamente diferente do tempo em que os ensaios foram escritos - até onde podemos escrever somente guiados pela paixão genuína e individual quando estamos imersos num contexto em que para tudo, literatura inclusive, é preciso dum automarketing visando curtidas e compartilhamentos nas redes sociais?
No mais, um livro interessante para os amantes da escrita - talvez até da literatura como um todo - e, claro, para os fãs do autor.