A C avalaria Vermelha- Isaac Babel
Tenho esse livro há muito tempo. Há tanto tempo que nem me lembro a razão de tê-lo comprado. Sei que alguém falou sobre ele. Ou li um comentário em algum lugar. Não importa.Intercalo leituras e resolvi usá-lo nessa função. Um livro auxiliar que acabou se transformando no principal.Não sabia que teria essa importância.
A edição do livro é bem antiga, da Horizonte Editora.Percebo agora que o comprei na VanDamme ,Livraria de Belo Horizonte, ali na Guajajaras. Frequentei muito essa livraria há alguns anos atrás e me lembro do proprietário, um senhor de aspecto estrangeiro, muito claro, do qual não me recordo o nome. Mas me recordo de sua fisionomia calma e tranquila, de sua voz suave e do fato de sempre estar indicando um livro.Parecia ficar decepcionado quando a gente não comprava o livro que ele indicava. Provavelmente foi ele quem me sugeriu esse livro para comprar e eu não devo ter me interessado muito pois sempre achei a literatura comunista árida. Por isso, comprei para não decepcioná-lo e não o tinha lido até agora.Só pode ser isso embora não venha ao caso. O que importa é que me apaixonei pelo livro e quando me apaixono quero que todos se apaixonem também pelo objeto de minha paixão.
Classificado como livro de contos, eu o chamo de livro de crônicas do cotidiano de uma guerra civil terrível acontecida logo depois da Revolução de 1917 na Rússia. O autor é o protagonista dessa guerra na qual lutou como um simples soldado raso, cuja função era matar o inimigo. E, a medida que a guerra ia se desenrolando, ele escrevia suas histórias, baseadas no que via e sentia.São palavras que ouviram os cascos dos cavalos cossacos, foram tingidas pelo vermelho do sangue dos homens e dos animais.Palavras que venceram o sono e o cansaço para se transformarem em sonho.
De um lado o 1º Exercito de Cavalaria Cossaca. Do outro, os poloneses. Uma luta praticamente corpo a corpo. 36 histórias. Na primeira delas, uma mulher pergunta, junto ao cadáver do pai: -Agora eu quero saber onde encontrar um pai igual ao meu. Esse foi o primeiro impacto e gerou uma crônica. Eu também quero saber onde encontrar um pai igual ao meu. Daí pra frente, o lirismo vai se misturando ao sangue, a barbárie a poesia, o terror ao sublime. São histórias simples e fascinantes. Histórias de gente e de cavalos.De Homens e Mulheres. De misérias e grandezas.De judeus e padres. A religião está sempre presente nessas histórias que originaram todo um mundo sem religião. O comunismo surgia erigindo um novo deus para substituir os velhos: o partido.
Sem dúvida, o livro é um clássico não só da literatura russa, como da Literatura em si. É história.
Vale a pena ler para compreender que os homens são sempre os mesmos. Não importa a hora nem o lugar.
(sugiro ler a biografia do autor, nesse mesmo site, escrito por mim - a foto não corresponde ao livro que tenho; é uma edição mais recente, de outra editora)
Trecho:
' A traição, digo-lhe camarada juiz Burdenko, zomba de nós através das janelas, a traição entra descalça em nossa casa, atraição tira as botas para que não chiem as tábuas do soalho da casa assaltada"