Collor – o ator e suas circunstâncias
Há poucos mais de quinze anos, no dia 29 de setembro de 1992, o país acompanhava a votação aberta – transmitida ao vivo - que levaria o afastamento do primeiro presidente civil eleito por voto direto deste 1960, o alagoano Fernando Collor de Mello. Mas o que levou a esse processo tão único na história mundial? Como chegou lá? O que levou um completo outsider a se ascender como presidente do Brasil? Quais lições devemos tirar deste episódio?
O cientista político Celso Melo, procura responder essas perguntas em Collor – o ator e suas circunstâncias (Novo Conceito, 256 páginas, R$ 35,90), uma análise que recria a linguagem envolvente e com riqueza de detalhes todo o contexto político, econômico e social que permitiu ao personagem Collor, com suas características de temperamento e seus atributos pessoais, irromper na cena política nacional, disparar na preferencia do eleitorado e vencer a eleição. Um estudo do processo deste fenômeno de mídia, deste quando soube tirar proveito do marketing e do medo das elites e da grande maioria dos políticos do presidenciável Luis Inácio Lula da Silva.
A obra traz, nomes importantes que contextualizam a apresentação, no caso o ex-ministro Maílson da Nóbrega e o prefácio, com as palavras do professor Eduardo Giannetti. É um exame detalhado das circunstâncias que levaram Collor ao poder, como também do processo político que ocasionou ao impeachment, retirando-o da vida pública por oito anos.
Após três anos e meio de pesquisa, o autor do livro, professor de sociologia e política do IBMEC São Paulo e doutor pela PUC-SP explica o Fenômeno Collor como um caso não extraordinário, mas resultado da dinâmica das relações históricas e sociais daquele seus tempo. Ouviu entrevistas, gravações de programas do horário gratuito eleitoral, leu documentos e material na imprensa para recompor o cenário da época.
Com uma linguagem envolvente, o livro demonstra como Collor usou sua elevada capacidade de comunicação para conquistar a imprensa e a propaganda política, e afirma categoricamente que o ex-presidente não foi um produto criado pela mídia, pelo contrário, tirou proveito de sua persuasão para conquistá-la, manejando-a para conseguir o apoio da massa popular. Como Giannetti diz em seu prefácio: “O livro mostra como ele manejava símbolos para conquistar o apoio das massas. Foi assim com Sarney... Collor percebia que ele era a imagem do político tradicional então detestado pelo eleitor e não apenas um presidente impopular".
Além de expor a trajetória política do ex-presidente, Collor – o ator e suas circunstâncias faz um retrato histórico daqueles anos, no contexto das duas crises que ocorriam: a legitimidade política e as dificuldades econômicas. Orfãos de Tancredo Neves, e transtornado pela Nova República de Sarney os brasileiros se viam sem saída com o futuro do país. E quando surge um caçador de marajás, jovem, prometendo modernizar o Brasil, foi a deixa para que Collor aproveitasse o momento como ninguém antes teria feito.
“Fernando Collor de Mello, no entanto, perdeu-se no jogo de aparências. Foi leão quando deveria ser raposa; foi raposa onde só poderia ter sido leão. Aproveitando-se da popularidade e dos 35 milhoes de votos de 1989, desconsiderou os partidos, os artistas, a sociedade organizada; invadiu redações. Não deu importância por constituir maioria no Parlamento. Ignorou os reclamos de deputados e senadores; perseguiu desafetos. Como não poderia deixar de ser, as raposas protegeram-se do leão e prepararam as armadilhas. Quando tentou se compor, já era tarde” pág. 204
Mas por fim “seu ocaso político, ironicamente, fortaleceu as instituições”. Pois de acordo com a avaliação do autor, Collor foi um marco para a ordem econômica, mas pelo outro lado, não representou nenhuma mudança.