Dois Proveitos em um Saco – de França Júnior
Em um ato, desenrolado em seis cenas, nesta divertida, despretensiosa e bem realizada comédia, França Júnior prova que a mulher, quando quer ludibriar os homens, ludibria-os com uma facilidade estonteante, atuando com uma sagacidade admirável, invejável. Amélia Teixeira, a protagonista desta surpreendente, em sua simplicidade, peça, participa, com seu marido, Luís, de um jogo, o Philippina, que consiste em: duas pessoas participam: na entrega de um objeto de um deles para o outro, ganha o jogo quem primeiro diz: “J’y pense”, e o perdedor fica obrigado a atender ao desejo do vencedor, desejo previamente definido. Amélia gabava-se da infalibilidade das mulheres em tal atividade lúdica. Antes de se retirar de sua casa para ir ao Rio, Luís aceitara o pedido que sua esposa lhes fizera, o de participar do jogo; ele deveria, portanto, ao regressar à sua casa, e assim que recebesse de Amélia, ou desse para ela, um objeto, se lhe antecipando, dizer “J’y pense.” Revelo, aqui, o fim do jogo, não da peça: Amélia vence Luís. Aqui, nenhuma surpresa. Ao revelar tal informação, não estou a destruir de quem me lê o prazer da leitura de Dois Proveitos em um Saco, pois o ponto principal da peça eu não revelo.
Em uma cena, apresenta-se ao proscênio um coadjuvante desabusado, Boaventura Fortuna da Anunciação – o nome contrasta com a postura de quem o carrega –, que entra, sem se anunciar, na casa de Luís e Amélia, dá notícia da sua estadia, praticamente obrigando Amélia a acolhê-lo. A entrada em cena de tal personagem causa estranheza a quem lê a peça, estranheza equivalente a provocada em Amélia. É Boaventura Fortuna da Anunciação um celibatário; ele apresenta à Amélia um livro, “Manual Prático do Celibatário”, cujo teor, diz, consiste em apresentar todos os recursos que as mulheres empregam para enganar os homens. Mal sabia Boaventura Fortuna da Anunciação que Amélia lhe iria ensinar um outro recurso, desconhecido do autor do livro.