Resenha Impressionista para "Vila Sapo"
Li hoje Vila Sapo. E to até agora procurando palavras para expressar o indizível que experimentei com esta obra. 'Astonishing'. Foi o mais próximo que encontrei. Uma amiga escritora definiu como "Uma bofetada". Concordei.
São seis contos ambientados na Vila Sapo, aqui em Porto Alegre. A realidade ficcional construída pelo talentosíssimo autor tem muito de humanidade e filosofia, e a crueza da vida na vila.
As histórias são tão bem escritas, que é assombroso constatar a verossimilhança das situações e dos personagens, e, ainda mais, a precisão do uso da linguagem, especialmente a falada-escrita. E mais ainda o entremeio de reflexões de tal profundidade, que alcançam o que temos de sentimentos talvez mais humanos, como direi?, de percepção da humanidade de cada personagem, sua representatividade tão verossímil, detalhes de sua construção, cenas intensas (eu diria que não vou esquecer nunca mais várias delas), e ainda fatos corriqueiros completamente convincentes, com sua lógica que desafia a leitura, a existência (o estar-no-mundo), e a própria consciência de uma guria-de-apartamento.
Lendo cada conto, eu me senti como estando bem pertinho do narrador, seja o Nego Estavo (e lembro da linguagem, da auto-ironia, dos demais personagens tão reais, uau, que baita conto!), seja o gurizinho do "aconteceu amor" (com aquela delicadeza na história e o adorável plot-twist), seja o "negociante" ("por que é que as pessoas tratam as outras como bicho?"), a testemunha que não estava preparada para ver o "rosa bebê" ("o que um coração cruel e covarde mais quer...", uau!). Que talento esse José Falero!
As reflexões que estes contos provocam, creio que agora vão ficar permanentes a me desacomodar, perturbar, chachoalhar, durante muito muito tempo. 'Astonishing'!