CAMINHOS PARA LONGITUDE
 
Novo livro de Marcos Samuel, “Caminhos para longitude” é uma das três obras que me propus a ler nestas férias (faltam “Do átomo ao buraco negro” – Schwarza; e “Anti-retrato & H’Era” – Max Martins, releitura). Sim, também sou curioso de astrofísica.
Se a literatura possui caminhos, certamente pode nos levar para as distâncias diversas, e a finalidade desse seu livro de poesia é justamente esta: cada poema é um caminho para qualquer lonjura (arrisco dizer, no tempo e no espaço).
O autor dividiu o livro em pelo menos duas partes: “Tantos incêndios” (na fragilidade) e “a física dos ossos” (movimentos): comentarei apenas a primeira parte (o suporte aqui requer textos curtos). Conheço a poética (agora amadurecendo) de Marcos Samuel; decidi, por isso, primeiramente verificar os dois olhares presentes nos preâmbulos: Prefácio e Apresentação - o que fiz com apreço (diferentemente do que costumo fazer: ler a obra, depois os comentários, se gosto daquela). E assim saem estas linhas:
Delineiam-se influências modernistas (fases mistas), no que tange as experimentações, emprego de metáforas-símbolo, certo misticismo, fragmentação etc.; o ponto que a mim ficou do Prefácio está por conta da possível unidade autor-eu lírico. Hermetismo a parte (não cabe aqui evidenciá-lo), contundente é a vivência experimentada pelo eu lírico (talvez mais de um) decorrente das experiências de vida sim do próprio autor (se fossem escritos por outrem, os mesmos poemas teriam certamente significados profundos diferentes – como têm também de leitor para leitor).
A estrutura (do livro também) viso pertencer ao livre arbítrio do poeta; destaco, porém, que uma boa leitura (não aquela analítica), fluente e prazerosa, deve ser feita de três formas (podendo ser concomitantes): a da superfície, a do sentimento do leitor – por seu conhecimento também de vida, e a da contextualização da obra/autor (contudo, se bem-feitas separadamente, também surtem efeito para fins próprios). Não percebi traços parnasianos, mas, e isso é uma visão minha, o trabalho com as palavras e a disposição estrutural, em uns e outros poemas, possibilitam o amalgamento entre o que se diz e o como se diz (se aleatório, entenda-se “trato”; se inconsciente, entenda-se “re-trato”; se intencional, entenda-se o que foi dito: trabalho).
Assim, temos um direcionamento para dimensão interiorana (geográfica e/ou psicológica), com a dialética pertencente ao ser... – por ser humano: o que deixa o ato de refletir também ser e continuar sendo (mesmo que por poucos) um ato distintivo de humanidade. Os animais, bichos presentificam um espaço ainda vivo; os insetos vêm na luz com ou sem “incêndios” (a cor vinha em meus dedos e os insetos também / - fogo da formiga-de-fogo): transfiguração de um saudosismo quiçá perene – quase sempre os dois últimos versos de cada poema sintetizam a poesia sentida subitamente. Na “Despedida” o rinoceronte leva a mensagem por entre a massa (mensagem abstrata ou não) – não sem vermos o quase paradoxo “gotas de pedra... / durante a queda do Sol” (Quem é(ra) esse ser? para quem a vida acesa se desprendeu com a queda – na longitude dos caminhos).
Comentei de bichos, seres – mas a natureza é focalizada também por outros elementos: águas e peixes, plantas... Afirmo o poder tanto conotativo quanto objetivo de certos termos que fazem parte do convívio do autor – o que confirma, não a morte do autor, mas o crescimento dele por meio do eu poético. Os flashes se assentam pela totalidade numa aparente incoerência (vistos por sua individualidade, podem deixar o leitor iniciante insatisfeito, talvez consigo mesmo).
Enfim, porque já me alongo... A leitura de CAMINHOS PARA A LONGITUDE, de Marcos Samuel Costa, é aguçamento para a conquista de mais leitores que conhecerão, na ginástica da leitura, “o eco do tempo a se eternizar” – não como som ondulando pelas pedras, mas como vozes-lembranças refletidas quase intactas dentro da história do escritor.

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Marcos Samuel Costa