Contra o Cristianismo - a ONU e a União Européia como Nova Ideologia, de Eugenia Roccella e Lucetta Scaraffia - Ecclesia
É a ONU uma instituição guardiã dos valores mais caros aos humanos? A propaganda oficial apresenta-a dotada de força moral para fazer da Terra um mundo melhor. Temos de nos perguntar o que a ONU entende por um mundo melhor. Há um livro que desmistifica a Organização das Nações Unidas. É de Eugenia Roccella e Lucetta Scaraffia, Contra o Cristianismo - A ONU e a União Européia como nova ideologia. Está dividido em duas partes, a primeira, Os Direitos humanos: Realidade e Utopia, de autoria de Lucetta Scaraffia, e a segunda, "Não cresçais, não vos multipliqueis", de Eugenia Roccella; e ao final, três curtos apêndices.
Apresenta a história dos direitos humanos desde a sua origem, datada do ano de 1776, com a redação da primeira Declaração dos Direitos Humanos, em cujo teor é poderosa a presença de idéias de inspiração cristã; e seguiu-se, em 1789, já sob os auspícios do terror da Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos Humanos, a segunda, em cujo corpo não está presente o pensamento de inspiração cristã dos puritanos americanos que nutria a primeira Declaração; há, nesta segunda Declaração, pensamento formulado a patir de idéias políticas e legais que prescindem de uma gênese transcendente, e Deus, que se fazia presente na Declaração redigida pelos americanos, está ausente; há, nela, no entanto, um Ser Supremo indefinido, inspirado nos ideais dos revolucionários franceses. E seguiram-se as Declarações de 1948 (inspirada na de 1789) e a de 1966 - e as idéias trancendentes de inspiração cristã não estão contempladas nestas duas Declarações, e o que de cristão há é apenas um simulacro.
A tradição religiosa, que forneceu à primeira Declaração muitos de seus elementos nucleares, foi relegada a segundo plano, e, por fim, eliminada, nas Declarações que se lhe sucederam, as quais, sob a influência de ideário materialista, hedonista, anti-cristão, servis à cosmovisão panteísta, agridem de morte as religiões monoteístas milenares, e a Igreja Católica contra esta sacando de todas as armas existentes, sendo uma delas a da desinformação e outra a do embuste.
A ONU, sob o reinado da religião civil, revoga a lei natural, substituindo-a pela contratual. E nesta nova era, dá valor inegociável à liberdade do indivíduo, irrestrita, garantindo o direito ao aborto, que atende a políticas eugenistas e de controle populacional, ao sexo lúdico, descompromissado, dissociado da procriação, à eutanásia; e dissemina a ideologia de gênero, em cuja premissa há a negação da biologia na constituição do ser humano.
A Igreja Católica bate-se, valente, e diuturnamente, contra uma legião de inimigos saídos do inferno, para inserir, ou conservar, na Declaração, elementos da lei natural, evocando o Decálogo e os Evangelhos, pois, têm ciência, o ser humano deprava-se se dele extinguir-se as chamas da transcendência, a consciência de um bem eterno, que lhe é intrínseco; e tal postura fere os brios dos herdeiros do iluminismo francês. Para a Igreja, é a matriz dos direitos humanos a lei natural, seu princípio fundamental, lei que tem de se invocar em oposição ao relativismo moral que está no centro da nova ética da ONU, para a concretização de cujo objetivo primordial, a ereção de um governo global, é imprescindível a aniquilação da Igreja Católica.
É interessante arrolar algumas informações, que expõem os propósitos verdadeiros, que são o de promover a extinção das religiões monoteístas milenares e o de executar a eliminação da Igreja Católica, da ONU.
A ONU, para realizar o irrealizável, um governo global onipresente, omnissapiente, onipotente, alegando libertar os humanos das correntes que as religiões monoteístas milenares confeccionaram, no uso de todas as armas à sua disposição, empreende esforço hercúleo na oferta a todos os povos de uma idéia cara aos pretensos donos do mundo, ao mesmo tempo que, desprezando-os, oferece-lhes cordas para que eles, sem o saber, com elas esforquem-se; para tanto, almeja eliminar da consciência humana os valores religiosos, e induzir os humanos a introjetarem, sem o perceber, ideologias gnósticas cuja gênese está nas heresias que há séculos ameaçaram a existência da Igreja Catôlica e nas filosofias materialistas de helenos de há dois mil e quinhentos anos, contra as quais muita gente reage, a movê-la um instinto milenar, que lhe pertence à essência, surpreendentemente conservada apesar de toda agressão que sofrida.
Alfred de Musset, no longínquo século XIX, empregou, pela primeira vez, o vocábulo 'humanitário', dando origem ao humanitarismo, ideologia que, critica à tradição cristã, crê na perfectibilidade do gênero humano; é uma religião laica o humanitarismo, e, segundo seus idealizadores, superior às religiões tradicionais.
Hélène Blavatsky criou, em meados do século XIX, a Sociedade Teosófica, cujo pensamento entendia como inegociável a fraternidade universal, sem distinção de raça, crença e sexo; seus livros serviram de base para estudos de religião comparada, e filosofias e ciências, estudos, estes, que diluíam, numa massa amorfa de generalidades, as religiões, negando-lhes o transcendente, o sobrenatural, e o estatuto de bens valiosos aos humanos.
Nos anos que se sucederam ao fim da guerra que devastou a Europa, dela saindo vitoriosos os Aliados, à crise das ideologias, e sem se ater ao direito natural, pretenderam os donos do mundo, em atendimento à sua cosmovisão, no desejo de submeter aos seus caprichos todos os seres existentes, fazer dos direitos humanos religião - situada além do alcance do raio de ação de toda crítica - laica, biônica, de alcance universal, cuja gênese está numa fusão do marxismo com a psicanálise freudiana e a antropologia de Lévi-Strauss. Para concretizar tal propósito, para tal religião confeccionaram elementos comuns às religiões milenares monoteístas: a idéia de universalidade, dando um panorama da presença do homem no mundo, desde a sua origem, que se perde no tempo; textos canônicos herdados de pais fundadores; linguagem peculiar, única, exclusiva, cifrada; personagens; enredos dramáticos; mitos; rituais; símbolos. Assim, criando uma nova religião, promove políticas em detrimento das religiões tradicionais.
Em 1948, substituiu-se, atendendo-se à reivindicação do movimento feminista, na versão em inglês da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o 'man' por 'human being' - para, alegou-se, evitar interpretações ambíguas.
Em 1949, em Lake Sucess, a ONU promove convênio científico, para elaboração de políticas de controle populacional.
Em 1954, em conferência sediada em Roma, fala-se de desequilíbrio entre crescimento e recursos naturais.
Em 1968, na Declaração de Teerã, define-se o controle de nascimento como política oficial da ONU, para desativar a bomba demográfica.
A ONU cria, em 1969, a UNFPA (United Nations Fund for Population Activities - hoje United Nations for Population Fund). Promove políticas de controle populacional, antinatalistas, sustentadas por fundo financiado por nações ricas.
Em 1985, em Nairóbi, são criados organismos favoráveis às reivindicações das feministas, reivindicações cujo teor é hostil à família tradicional, aspecto, este, que se revelou, na Conferência do Cairo, em 1994, ao conceder-se às mulheres o monopólio dos direitos sexuais e reprodutivos.
Em 1992, criou-se a IPPF (International Planned Parenthood Federation) - ONG favorável ao controle de natalidade e ao aborto - que se uniu a associações eugenistas e antinatalistas de matriz neomalthusiana.
Em 1995, definiu-se palavras de ordem no vocabulário politicamente correto: 'empowerment'; 'mainstreaming'.
Aqui estão alguns eventos, poucos, dos incontáveis que o livro menciona. Uma lista que, para não me estender em demasia, encerrei para tratar de outros pontos interessantes, que irão me tomar um bom espaço deste artigo.
Em nome dos direitos das mulheres, deflagra a ONU, secundada por inúmeras organizações, e contando com o aval de governos, guerra às religiões milenares, em particular à cristã (entendida como obscurantista, inimiga da modernidade, das mulheres) e à Igreja Católica, alvejada esta de todos os lados, inclusive de dentro, pelos inimigos nela infiltrados. A Igreja Católica é o maior obstáculo à implementação, pelos artífices do 'mundo melhor', sob governança global centrada na ONU, das políticas desumanas, de perfil feminista radical, que têm na família instituição que oprime as mulheres, e para tanto os Direitos Humanos - na crítica apresentada por Gauchet e Lévinas - convertem-se em 'pensamento único', credo totalitário e nihilista.
É a religião cristã alvo de campanhas difamatórias financiadas por organizações (dentre elas, Rockfeller e Ford) que tratam de questões relacionadas ao controle populacional e aos direitos reprodutivos das mulheres, dados, estes, como sacrossantos, os quais contemplam o direito delas à contracepção e ao aborto.
A ONU promove políticas de agressão à família tradicional. A Igreja Católica opõe-se-lhe. O Pontificio Conselho Pastoral para os Migrantes e Itinerários não apóia a política, favorável ao aborto, da ONU para a saúde reprodutiva.
Além de agredida pela ONU, é a Igreja atacada pela UE (União Européia), que é favorável ao aborto - e muitos governos europeus financiam clínicas abortistas.
Um dos capítulos mais repulsivos do qual trata o livro é o sucedido na China, o da esterilização e aborto forçados de milhões de mulheres, contando para a execuço de tal empreendimento o governo chinês com a cumplicidade da UNFPA e da ONU, e com o apoio da WWF, ONG ambientalista.
Para esquivarem-se à reprovação pública, os apoiadores das políticas de controle de natalidade usam de eufemismos para substantivar o assassinato de crianças em seu estágio intra-uterino (dar o feto como parte do corpo da mulher, e não como um indivíduo singular dependente do corpo dela, concedendo, assim, autorização moral a todos os envolvidos em operações abortivas à prática do aborto - assassinato - sem que os aflijam sentimentos de culpa, de condenação ao ato praticado, afinal, está-se, apenas, removendo do corpo da mulher uma de suas partes, e não suprimindo à vida uma pessoa) e, com slogans, terminologias obscuras, ambíguas, que permitem infinitos usos, e significados, contrastantes muitos destes, transformam a linguagem, criam um novo léxico, para alterar o sentido da ação e adulterar a percepção que as pessoas têm da realidade, induzindo-as a acolherem como reproduções corretas dela discursos políticos para cuja redação inspirou os seus autores interesses escusos, muitos deles diabólicos: "O útero é meu e eu o administro", "O embrião (ou o feto) é meu e eu o administro", embrião é "óvulo fecundado, no útero, de até oito semanas", o feto é "óvulo de mais de oito semanas", "A interrupção voluntária da gravidez", "regulação menstrual", "kit de interrupção de gravidez", "kit de urgência para a saúde reprodutiva", "contracepção de urgência para o dia seguinte", "direitos reprodutivos". E suprime-se os termos 'mãe', 'pai' e 'maternidade'.
E nas políticas de prevenção de gravidez, usa-se de inúmeros artifícios: a esterilização; nas mulheres, ligaduras de trompas; nos homens, a vasectomia; pílulas anti-concepcionais e abortivas para evitar a "gravidez indesejada", em nome da "saúde reprodutiva" da mulher, para o "planejamento familiar".
Para manter o povo ignorante de seus inconfessados propósitos, a ONU, em sua política de controle populacional, para a concretização de sua utopia técnico-científica, concebeu, inspirada por um diabólico espírito anti-cristão, um novo léxico, o "esperanto", diz a autora, Eugenia Roccella, decifrável, unicamente, pelos burocratas das organizações internacionais.
E adiciona a ONU à sua utopia teratológica mecanicista, escatológica, o 'novo mundo possível', um ingrediente que lhe reforça a feiúra: a ideologia de gênero, esposada, dentre outros, por Judith Butler, já conhecida dos brasileiros, ideologia, esta, que nega a existência de uma essência feminina imutável e a distinção biológica entre os sexos masculino e feminino, e que tem na dualidade dos sexos uma fórmula pré-fabricada pela sociedade, portanto, fictícia.
E deixei, para encerrar este artigo, uma síntese dos capítulos 'A Igreja Católica e a Organização das Nações Unidas', 'As relações entre as religiões', 'O medo da bomba demográfica' e 'A Igreja e a União Européia', os quatro constituintes da primeira parte do livro.
A Santa Sé ofereceu apoio à Declaração de 1948, desde que a ONU respeitasse a ética cristã.
O Estado da Cidade do Vaticano tem, na ONU, assento de observador permanente de Estado não membro. Conserva-se no direito à neutralidade. Não tem direito ao voto; e tampouco pode propor candidatos à assembléia geral. É membro de entidades intergovernamentais tributárias da ONU: FAO, OIT, OMT, UNESCO, dentre outras.
A organização Catholics for a Free Choice (Católicas pelo Direito de Decidir, no Brasil), financiada por Ford Foundation e Packard Foundation, luta em favor do direito ao aborto sem restrições.
A distância que separa da ONU a Igreja Católica, no que diz respeito à liberdade religiosa e à política de controle demográfico, é inabarcável, e amplia-se, pois a ONU professsa a 'religião' dos direitos humanos e limita o princípio de liberdade religiosa, opondo-se à religião cristã, e silenciando-se acerca dos abusos e crimes cometidos em nome do Islã. Além disso, entende a ONU o proselitismo, o cristão, e não o muçulmano, como "incitação à discriminação e à violência religiosas", e considera fanática toda pessoa que tem em sua religião a verdadeira religião, pois, move-a "o ódio religioso".
O movimento ecológico, em favor de uma ética ambiental, conta com o apoio de inúmeras organizações inter-religiosas, e o financiam Ted Turner, os irmãos Rockefeller, e Carnegie, e as fundações Ford, dentre outros.
A URI (United Religion Initiative), ONG fundada, em 1993, por William Swing, bispo episcopaliano, adepta do movimento New Age, contando com apoio entusiasmado da ONU, condena o proselitismo cristão.
A Carta da Terra, redigida no Parlamento das Religiões, é a gênese de uma ética ecológica inter-religiosa. Dentre suas idéias está a hipótese Gaia, de inspiração pagã.
Organizações anti-religiosas, financiadas por Rockefeller e Ford, atuam em favor do aborto sem restrição, da política anticoncepcional, da ideologia de gênero, de políticas de controle populacional, e têm nas religiões tradicionais obstáculos à concretização de sua cosmovisão materialista, mecanicista, cientificista.
Na Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu, opôs-se à Igreja Católica ferrenhos grupos progressistas, que, empunhando um martelo e brandindo uma foice, defenderam, fervorosos, a política abortista e a do controle de natalidade. Nos relatórios de 2002/2003 de tal Comissão, rejeitou-se a raiz cristã dos Direitos Humanos. E deu-se a religião como portadora de extremismos. E calou-se a respeito da perseguição, emprrendida em todo mundo, aos cristãos. E não se teceu críticas ao fundamentalismo islâmico. E reprovou-se a Igreja Católica. E renegou-se a Declaração de Direitos Humanos de 1776.
Adulterando leis, influenciando a cultura, os costumes, as políticas, a ONU e a UE, num esforço gigantesco, coordenado, internacional, contando com aporte financeiro de megacapitalistas (diria Olavo de Carvalho), minam a Igreja Católica, para, demolindo-a, aniquilar a civilização ocidental.
As autoras de 'Cristianismo - A ONU e a União Européia como Nova Ideologia', Lucetta Scaraffia e Eugenia Roccella, presenteiam seus leitores com uma descrição pormenorizada de um amplo panorama da ONU e da UE. O que aqui registro corresponde a uma fração infinitesimal do livro. E é provável que eu, para a redação deste artigo, tenha selecionado informações irrelevantes, as quais aqui inseri, e negligenciado as relevantes. À tarefa de o redigir dediquei o dia de anteontem e algumas, poucas, horas de ontem. Espero que o meu esforço não tenha sido de todo inútil.