Resenha Crítica: A viagem do descobrimento (BUENO, Eduardo - coleção Brasilis)

BUENO, Eduardo. A viagem do descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral / Eduardo Bueno. – 2. Ed.- Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. 128p. :Il. – (Terras Brasilis; v.1)

Eduardo Bueno, em sua obra “A viagem do descobrimento: A verdadeira história da expedição de Cabral” trás uma narrativa que busca descrever o descobrimento da Terra de Vera Cruz (Brasil), desde os primórdios. Retratando a expedição que fora comandada por Pedro Álvares Cabral e o contexto histórico que antecede e o que precede a expedição. Através dos relatos escritos à bordo, com cartas, crônicas e diários, sendo uma das principais atualmente, a carta do Pero Vaz de Caminha, que não era o escritor oficial da tripulação, porém, descreveu com riqueza de detalhes em sua carta, a bela terra a qual a esquadra de Cabral contemplara. A obra também levanta questionamentos a cerca do verdadeiro descobrimento, e o autor veste a posição voltando-se a hipótese de que o Brasil não teria sido descoberto na expedição de Cabral, e destaca que esse “descobrimento”, na verdade é um “achamento” pois relata a manobra “volta ao mar” na qual foi descoberta por acaso por Bartolomeu Dias, no contornar o cabo amedrontador (Cabo das Tormentas) para chegar às Índias. Na ocasião, da viagem do Vasco da Gama, o mesmo percebera indícios que haveria por aquelas redondezas, terras, porém, seguiu viagem. Sendo assim, intensifica a tese do “achamento” foi intencional, e que Cabral, realizou também a manobra “volta ao mar” justamente por seguir instruções do Vasco da Gama, quando em seu camarote tinha sob suas mãos o manuscrito de Gama, sobre as calmarias do Golfo da Guiné, aconselhando-o a navegar para Oeste, antes de guinar para o Sudeste. A expedição de Cabral teria sido organizada por D. Manoel com a finalidade de impressionar o Samorim de Calicute, demonstrando o poder militar de Portugal, exibindo suas armas e riquezas, e também o fato de serem enviadas 13 (treze) Caravelas e naus, deixando em evidência assim em exuberância o poderio. Para então poder instaurar o comércio de especiarias. Segundo o autor, este dever da expedição fora designado e preparado porque na viagem de expedição anterior de Portugal para às Índias, que fora liderada por Vasco da Gama em 1498, o Samorim teria desprezado a mesma e por esse motivo houve choque de interesses com os Árabes, e isso prejudicava os interesses mercantis de Portugal. “De Lisboa a Vera Cruz”, ao introduzir o primeiro capítulo iniciando com palavras em maestria, os primos escritos envolvem o leitor, descrevendo em uma forma romântica sobre este fato histórico, ao relatar minuciosamente detalhes de como se sentira aqueles que tanto esperavam a frase: “Terra à vista!”, entre os cantos das aves.

Como já é deixado em evidência em seu titulo, o contexto abordado se remete aos antecedentes e preparativos para a viagem rumo às Índias. É relatado, por exemplo, o tamanho das naus, as forças políticas que permeavam a esquadra, como era dividida a tripulação, gente de todos os extratos sociais em rígida hierarquia, os salários de todos de acordo com suas funções, entre pilotos árabes, astrólogos judeus, marujos lusitanos e os nobres ibéricos, inclusive o do próprio Cabral, a comida, a iniciativa privada, a “diversão à bordo”, e a partida. “O pedaço flutuante de Portugal” (a esquadra) fora armada com rapidez, para sair então a cumprir a sua tarefa, pois só faltavam quatro meses para que os ventos mudassem de direção, sendo antes desse período de Leste para Oeste. Segundo os pilotos Árabes que haviam sido capturados por Vasco Da Gama, revelaram, somente assim seria possível atravessar a África para à Índia. A esquadra de Cabral então deveria partir antes do final de março. Na verdade Pedro Álvares Cabral era o chefe militar da missão, e o comando técnico foi entregue para um dos mais afamados pilotos da época, Pero Escolar, que fora o piloto que dirigia o navio com o qual Nicolau Coelho, “descobrira” o caminho marítimo das Índias. Após 44 dias de viagem, a armada de Cabral, finalmente ancorou em frente ao Monte Pascoal, ao cair da tarde de 22 de Abril de 1500. “Portugal Conquista o Mundo” Um novo ciclo estava por se iniciar para os tripulantes da esquadra de Cabral, na quinta-feira pela manhã 23 de Abril de 1500, estavam às vésperas de fincar os pés no novo continente. Neste segundo capítulo, é literal os sentidos das palavras proferidas para o título, pois retrata as conquistas e soberania de Portugal. A tomada Ceuta, também retratada, foi considerado um momento chave, pois desde os dias de glória do Império Romano, aquela seria além da última cruzada, a primeira vitória europeia sobre os árabes na África, sendo também o começo da expansão ultramarina portuguesa que se estenderia posteriormente por três continentes ao decorrer dos três séculos seguintes. É retratado também neste capitulo, como funcionava o “comércio mudo” e essa nomenclatura se dava porque os povos não conheciam a língua um dos outros, então diante das mercadorias, o comprador colocava a quantidade de ouro ao lado da mercadoria, aquilo que o mesmo julgava que valia. O que este capítulo nos trás é de fato importante para podermos compreender e relacionar o contexto histórico central do livro, o autor nos remete a figuras importantes de Portugal, como D. Henrique que fundou a Escola de Sagres, entre outros feitos tais qual por sua ganância o mesmo ter superado as supertições que giravam em torno do “cabo do medo”, que em tom de ameaça assegurava um provérbio nas tavernas portuárias de Lagos “aquele que ultrapassar o Cabo de Não, ou voltará ou Não.” Palavras essas que pesavam a realidade, para eles, naquele momento histórico, que ao mergulhar neste Cabo, as possibilidades de voltar eram praticamente todas nulas.

O que é retratado em a “Semana de Vera Cruz” são os relatos escritos como aparato, sendo em maior destaque a carta do Pero Vaz de Caminha, na qual fora relatada os dez dias que a frota de Cabral esteve em terras brasileiras. Um marco incontestável foi o primeiro contato com homens “nus”, não escondiam as suas vergonhas, que apesar de ter à bordo homens que falavam seis ou até sete idiomas diferentes, não se foi possível travar um diálogo com os mesmos, e até concluíram os tripulantes do Batel, que jamais haviam visto semelhantes homens, “pardos, nus, sem algo que lhe cobrisse as vergonhas”, era a primeira vez que os homens não eram negros. Ao encostar o escaler no fundo arenoso, os nativos se aproximaram do bote com arcos e setas nas mãos, Nicolau Coelho fez sinal para que eles pousassem os arcos, e eles o fizerem. Houve também a primeira troca, sem descer do barco, Coelho jogou um gorro vermelho à praia (o que era comum entre os marujos lusos) um sombreiro preto e a carapuça de linho que usava na própria cabeça, então houve a retribuição dos nativos, dando-lhe um cocar de penas de aves, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaios e um colar de contas brancas, e ali se iniciava uma aliança entre aquela tribo e os portugueses. É possível imaginar esta cena, de fato os relatos bem detalhados, nos transporta a este passado, marcado de descobertas, como o próprio Eduardo Bueno levanta a ideia, que pode até ser que o Pedro Álvares Cabral não tenha de fato descoberto as terras brasileiras, porém foi um grande achado, em termos de descobrir uma outra cultura, uma outra sociedade... outros escritos nos quais descrevem outros momentos, nos desperta o interesse em querer saber mais sobre o que ocorrera, como por exemplo o fato de ser um lugar que os Portugueses conquistaram inicialmente sem precisar de espadas, mas sim com uma dança com os nativos, ou a missa que os índios assistiram junto com os Portugueses, ou a permissão para que dois deles pernoitar a bordo de uma das naus. Esta obra do jornalista Eduardo Bueno é elucidadora, com um teor histórico fabuloso, é de fácil leitura, sendo assim não só um acadêmico conseguiria ler e compreender, mas também pessoas comuns, é enriquecedor para quem procura sobre os primórdios do Brasil, o autor faz um vai e volta para nos inserir no contexto histórico dos fatos. Seria interessante que chegasse até os alunos de ensino básico, ampliaria os conhecimentos sobre este marco, sem necessidade de ser algo meramente decorado. Eduardo Bueno não é um historiador, o mesmo é jornalista, escritor e tradutor brasileiro. Umas de suas obras são: 1 A viagem do descobrimento (1998), 2 Náufragos, Traficantes e Degredados (1998), 3 Capitães do Brasil (1999), 4 A Coroa, a Cruz e a Espada (2006), aproveitando o contexto das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, realizou contrato com a Editora Objetiva, para a redação de cinco livros, para leigos, foram lançados as obras citadas acima.