A Filha do Canibal de Rosa Montero

Em meio a Flip deste ano, lembramos do frisson causado pela visita de uma escritora espanhola na edição de 2004, que chegou dando autógrafos por aonde chegava. Uma autora que caiu nas graças de muitos leitores exigentes e mostrou com seus últimos livros lançados no Brasil, um misto de romance e relato pessoal ( A louca de casa e Paixões). Desta forma conseguiu dar a seus livros algo que envolve o leitor em uma narrativa tão sincera e única, como um grande amigo, bem íntimo, tivesse se confidenciando. Jornalista de profissão, entrevistando centenas de pessoas, a madrilena Rosa Montero (1951) conseguiu se tornar uma das colunistas mais conhecidas de seu país. Estreou na literatura com uma ficção de humor sarcástico e irônico, que ao mesmo tempo emociona e diverte, trilhando um caminho de muito sucesso tanto pela crítica, como pelos leitores.

Seu mais novo livro, lançado aqui no Brasil, A Filha do Canibal (La hija del Canibal, tradução de Joana Angélica d"Ávila Melo, Ediouro, 336 pp, R$), chegou com um pouco de atraso, escrito em 1997, é um de seus livros premiados, ganhou em 1997, o Prêmio Primavera de Narrativa, além de ter sido adaptado para o cinema pelo mexicano Antonio Serrano, que saiu com o título em português – Aos olhos de uma mulher.

Lúcia, uma mulher de quarenta e um anos, escritora de sucesso de livros infantis, casada com Ramón há dez anos, uma união mais por hábito do que por amor, vive um momento critico em sua vida. A rotina está a desgastando, e o casal decide passar o final de ano em Viena, para mudar de ares. Contudo, minutos antes do vôo decolar, Ramón desaparece. Ali no aeroporto, consumida pela solidão, naquele momento, Lúcia se depara com algo desconhecido, uma angústia de uma liberdade que lhe causa medo.

Após levar o caso à polícia, com a solidão a sufocando, inicia uma busca por sua própria conta. Logo, um vizinho de quase setenta anos, Félix Fortuna, anarquista, antigo toureiro e pistoleiro e um jovem de vinte anos, Adrián, se tornam parceiros na empreitada iniciada.

O desaparecimento do marido acaba se relevando um seqüestro e, para tê-lo de volta, Lúcia terá de pagar um resgate milionário, dinheiro que, obviamente, ela não tem. Ao mesmo tempo em que é mostrado esse inusitado problema, ela descobre que seu marido tem uma fortuna de uma herança desconhecida. E acaba envolta em uma teia de intrigas e corrupção.

A trama se desenvolve em um ritmo bem acelerado, embalando a leitura, com toques engraçados de nossa heroína às avessas. A personagem Lúcia, narradora carismática, aborda ao longo do livro, seus sentimentos, qual o foi o caminho que sua vida seguiu, levando o leitor a refletir com a protagonista, os percalços que ocorrem na via conjugal.

Em meio a história principal, segue alguns capítulos da vida de Félix, onde narra a fantástica do curso dos acontecimentos que marcaram a história dos anarquistas e libertários do século passado.

Uma história de mistério e romance, combinando o thiller e a aventura do seqüestro com a crise pessoal de uma mulher em um momento decisivo de sua vida. Com várias reviravoltas, A filha do Canibal retrata o caminho da juventude a maturidade, a idade que delimita a fronteira do nosso mundo e o momento onde podemos decifrar o que somos.

Cadorno Teles
Enviado por Cadorno Teles em 12/07/2007
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