Malígna
Se você já leu O Mágico de Oz, pensará que só há um livro escrito sobre esse mundo fantástico, mas que na verdade há uma série de 40 livros, criados e escritos por L. Frank Braum (1856-1919), cujo primeiro volume, O maravilhoso Mundo de Oz, foi publicado em 1990 e se tornou um dos best sellers da época. Braum escreveu ao todo, 13 volumes, que após sua morte foram seguidos por outros, escritos por outros autores, como Ruth Plumly Thompson (1891-1976), que se aposentou em 1939 e escreveria 19 obras e John R. Neill, ilustrador da série que assumiu o mundo mágico.
É nessa terra que se desenrolam as aventuras de Dorothy Gale, o Homem-de-lata, o Espantalho e o Leão Covarde . Uma história que conquistou leitores de todo o mundo, principalmente após o filme de 1939, de Victor Fleming com Judy Garland, que encantou a todos com a magia de seus personagens.
Oz fez parte da vida de muitas gerações e escrever uma nova obra sobre esse mundo é uma empreitada e tanto, e o doutor em literatura inglesa e americana, Gregory Maguire, escreveu uma obra de tamanho cunho avalassador, como concluiu grande parte da crítica norte-americana. Indo além das histórias infantis e do clássico mundo, Maguire, já conhecido pelas obras infantis, consegue apurar em um olhar adulto para o passado de um personagem de Oz, não um daqueles considerados bonzinhos, mas a Bruxa do Oeste, que tanto atazanou a vida de Dorothy.
Em Maligna (Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, tradução de Chico Lopes, Ediouro, 416 pp, R$ 49,90), Maguire nos transporta para o passado desta mulher, cheia de contradições neuróticas e outras perturbações emocionais ou mentais. Com uma fantástica narrativa, o autor cria uma novela paralela ao mundo de Oz e prepara um protagonista inusitado. E conta a história do vilão, personagem odiado por todos – quem não tinha medo das gargalhadas que ela dava no filme de Fleming? Em torno da história original, a narrativa se desenvolve ao seu redor, mas de um lado oposto.
Elphaba, a suposta maligna bruxa do oeste, uma personagem que para Maguire é incompreendida, que luta pela liberdade. Iremos conhecer o dia do seu nascimento, envolto em acontecimentos estranhos, a pobre criança nasceria com a pele verde, com dentes proeminentes e não suportando o toque da água. Seus pais são Flex, um pastor unionista e Melena, descendente de uma família rica, não conseguem aceitar a criança, que nasce sendo alvo de uma rejeição. Ao crescer, mostra com sua sagacidade que pode conquistar amigos, sem abrir mão de suas sempre irônicas observações e reflexões sobre a vida. Na universidade conhece Glinda, sua companheira de quarto, que a rejeita desde o início e que vive para as aparências, bem diferente de Elphaba, uma estudante séria e inquisitiva.
Elphaba em sua tortuosa vida, que levará aos recantos e aos quatro cantos de Oz, conhecerá as diversas regiões daquele mundo, habitadas por povos de vários costumes e animais pensantes, ou melhor, sapientes. Tudo comandada pelo Mago, o feiticeiro ditador que vive na Cidade Esmeralda, numa hierarquia que açoita aquele mundo. Algo que não aceitará e insurgindo em seu coração uma revolução, um movimento contra as injustiças e desigualdades daquele governo e daquele mundo, repleto de mentiras, hipocrisias e preconceitos, para que possa restaurar a harmonia e a prosperidade àquela terra. Como uma dessas novelas televisivas, cheias de reviravoltas, Maligna opina no que é o Certo e o Errado, no que leva seus conceitos a não serem aceitos pela futura aventura de Dorothy.
Um livro que retrata de forma bem inteligente, a natureza do Bem e do Mal. O que é ser bom? O que é ser mal? Será que estou sendo mal, enquanto sou bom? E vice-versa. Maguile desenvolve uma lição de valores e de moral, que há bastante tempo não vemos na literatura norte-americana.
Recomendo esse livro por ser uma novidade no gênero, bem criativa e aceita tanto pelo público, como pela crítica. Chegando a se tornar um musical na Broadway de grande sucesso. Um Oz revisado, sem a visão pueril da obra.