ANTONY BEEVOR: A BATALHA PELA ESPANHA
O Famoso quadro Guernica de Pablo Picasso (1881-1973), sobre os bombardeios a cidade de Guernica até então uma cidadezinha pacata e desconhecida do País Basco espanhol, bombardeios realizados pela Luftwaffe, a força aérea Nazista, em apoio aos partidários do ditador Francisco Franco (1892-1975). O quadro é um retrato contundente dos horrores da Guerra Civil Espanhola (1936-39), conflito considerado o ensaio para a II Guerra Mundial, onde forças conservadoras e nacionalistas aliadas à igreja e a setores do exército se insurgiram contra a República deflagrando um dos conflitos mais sangrentos do século XX. Inicialmente restrita a Espanha, mas na medida que o conflito foi adquirindo contornos dramáticos, começou a sensibilizar a opinião pública mundial. Muitos intelectuais simpatizantes da causa republicana e partidários nacionalistas foram à Espanha para lutar nesta guerra intestina. A Europa vivia numa tensão provocada pelas ambições territorialistas de Hitler, que despontava como o novo senhor da Europa e a Inglaterra e a França potências decadentes faziam “vista grossa” ao conflito, para não “aborrecer” o Líder nazista. Isto custou à queda de um regime legalmente instituído - a república espanhola. Os dois lados do conflito achavam que estavam lutando por uma guerra justa: os nacionalistas convictos acreditavam que estavam lutando contra a barbárie representada pelo comunismo ateu e desumano; de outro lado os socialista acreditavam que lutavam contra a barbárie e pela civilização, representada pelas ideias “humanistas” e emancipacionistas da ideologia marxista, herdeira da tradição mais progressista do idealismo alemão, contra os nacionalistas aliados ao fascismo, que eram identificados com a barbárie. Em certo sentido, foi uma disputa entre a razão instrumental, representada pela ideologia fascista, contra a razão esclarecida, representada pelo marxismo e a sua matriz iluminista. Era a própria crise da razão Ocidental em sua forma mais devastadora. O fato é que a Espanha foi o palco de onde se deram as paixões das ideologias políticas do século XX, sejam elas gestadas na Alemanha, era a razão kantiana, era Hegel em sua versão conservadora e em sua versão progressista, era Kant, era Marx, eram as ideias mal alinhavadas de Nietzsche com pitadas de darwinismo social, era Heidegger, que via Hitler como a encarnação do ser do Volk alemão, enfim era a ideologia alemã, atuando nos espíritos deflagrados; mas era também o anarquismo de origem francês e russo, era as ideias de Saint-Simon, Bakunin, e permeando todo esse caldo ideológico, a crise global do capitalismo e os seus reflexos devastadores na economia e na já esgarçada sociedade espanhola, que acaba por aprofundar ainda mais a cisão interna de um país que vinha passando por experiências traumáticas, onde as pressões pela modernização se chocavam com as forças conservadoras secularmente instituídas. E no meio disto, uma população indefesa feita refém, espremida entre interesses que lhes era muitas vezes alheios, submetida a todo o aparato de destruição disponível, alvo de táticas militares inovadoras como a blitzkrieg, foi neste conflito que os bombardeios à população civil foram inaugurados, o palco da guerra não se restringia mais ao front. Arriba España! E Non Pasaran, sintetizava o clima da época. Um conflito que resultou na morte de mais de 500.000 pessoas. O livro de Beevor retrata estes episódios a partir de uma farta documentação e de uma pesquisa histórica apurada.