Fahrenheit 451
“Do outro lado do rio, está árvore da vida que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e suas folhas serve, para curar as nações”.
Um clássico da literatura de ficção cientifica em versão de bolso, Fahrenheit 451 de Ray Bradbur, lançado pela editora Globo, chega para se juntar a outros bons lançamentos de um gênero que cresce a cada dia, o da ficção alternativa.
Como George Orwell em 1984 e Philip K. Dick em O Homem do Castelo Alto, Bradbury mostra uma sociedade oprimida por um regime totalitário, no caso, o controle político estar integralmente ligado aos meios de comunicação, especialmente a TV. O título Fahrenheit 451 estar associado à lei do governo que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura. Um milhão de livros foram proibidos, como prevenção que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Assim todos os livros desta lista proscrita encontrados tem que ser queimados. E a temperatura que faz os livros inflamar é a 451 na escala Fahrenheit.
O corpo de bombeiros ironicamente assume o papel de policiamento e manutenção da lei, são eles que queimam os livros, conduzindo veículos com aparência de salamandra. A narrativa conta a história de Guy Montag, um desses bombeiros que queimam livros.
No inicio, pensa que vive uma vida feliz na plasticidade de sua sociedade – um bom emprego, uma família, conforto, mas quando conhece uma mocinha que o ensina a pensar, a ver o mundo com outros olhos, a gostar de livros, a se tornar a margem da sociedade, um verdadeiro marginal, que esconde e rouba livros. Denunciado pela mulher, é perseguido e desiludido se afasta da sociedade e onde vai, em uma floresta próxima encontra a felicidade da esperança.
Fahrenheit 451 é um pequeno romance que ganhou uma versão cinematográfica, logo após ser publicado, pelo cineasta François Truffaut. A história esconde uma critica pesada à sociedade norte-americana de 1953, depois de Hiroshima e Nagasaki, quando a todo custo se conservava a ilusão de que o mundo era maravilhoso e feliz, que as opiniões opostas eram incineráveis e a vida agradável era o único e verdadeiro objetivo a preservar.
Montag é um membro desta sociedade que vive numa farsa equilibrista. Cada pessoa não deseja sair da vida cotidiana, perfeita e sem complicações, mas quando Montag conhece o outro lado e que descobre paradoxalmente que vive uma vida não muito satisfatória de sentimentos. Mas não é lê o protagonista deste romance, ele simplemente cai, é empurrado ante a rebelião. Os verdadeiros protagonistas são: Clarisse, a mocinha incivilizada e “antisocial” que perturba o equilíbrio de Montag; Beatty, que golpeia moralmente tudo que Montag pensava conhecer: Mildred, a sua fria mulher; Fader, um ex-professor de literatura... E a máquina desumana, caçadora, a força mecânica que persegue o homem, em uma palavra a Lei.
Tudo que hoje ornamenta nossa sociedade aparece como causadora do regime totalitário: a televisão, a despreocupação juvenil em se divertir sempre, a publicidade, a cultura do ócio e do entretenimento, contudo em Fahrenheit 451 sem seus enfeites, sem suas cores e melodias.
Essa nova edição, em formato pocket, vem com uma proposta de trabalho para a sala de aula. Um livro meio que antiquado pelos padrões atuais da Ficção Científica, mas que nos ensina em meio a BigBrothers, a nossa televisão capitalista, a políticos corruptos, a violência, a ver um mundo em meio a tanta ignorância e estupidez, onde podemos encontrar a esperança da verdade.
Ou como analisou o escritor português Jorge Candeias “Fahrenheit 451 é um terrível espelho dos tempos que vivemos. Um livro intemporal. Um livro que fica”.