Coriandra
Contando histórias é como Sally Gardner se tornou famosa, uma autora brilhante e apaixonada pelo que faz. Quando ainda era criança pulava de escola em escola, sempre considerara-na incapaz de aprender, um psicólogo chegou a dizer que ela era “cega das palavras”, como uma personagem de Dickens era se sentia mal-ajustada. Nem seus pais, nem seus professores entendiam que era sofria de dislexia, era uma menina inteligente, e que em 1960 não tinham reconhecido o seu problema. “Após sair de uma escola para crianças especiais, fui mandada para uma outra escola, para crianças ricas, com regras e uniformes escuros e sapatos de solado bem delicado”, recorda. Mas não era uma Hogwarts. “Eu era intimidada e tratada muito mal por aquelas garotas. Amava histórias de terror, e decidir compor as minhas próprias para escapar do que vivia. Certa noite narrei, uma das minhas histórias, quando todos ficaram quietos, soltei um berro que causou um dos maiores alvoroços daquela escola, era menina chorando, outra querendo seu pai. Nunca mais, elas me causaram problemas”.
Após esses anos, Gardner entrou em uma escola de arte e seguiu uma brilhante carreira no teatro desenhando cenários e figurinos. Logo, se dedicou a ilustração e escreveu muitos livros infantis, como A menina mais forte do mundo e A menor menina do mundo. Agora em seu mais novo livro Coriandra (Cia das Letras, no original I, Coriander - com tradução de José Rubens Siqueira, 280pp, R$ 35), debuta no romance, em uma história passada na cidade de Londres do século XVII e um mundo mágico de fadas, onde uma menina viverá o drama da disputa do poder nos dois mundos.
Inspirando-se nos anos de sua infância, a autora traça uma narrativa fantástica com nuances históricos, uma verdadeira canção de amor à cidade de Londres e uma empolgante aventura. Coriandra Hobbie é a filha de um rico comerciante e de uma curandeira, que viviam prósperos e felizes até que a Revolução Puritana sob o comando de Oliver Cromwell derrotasse o rei e instaurasse uma série de regras e normas para cada um dos cidadãos ingleses. Coriandra passar por certas dificuldades, até que ganha misteriosamente um presente, um belo par de sapatos prateados. Sapatos mágicos que levam quem os calçar para um reino mágico.
Um livro que entusiasma, por recorrer à fantasia para explicar delicadamente a disputa do poder e da religião em mundos tão diferentes como aqueles retratados na história, o mundo real, opressivo, controlador e ameaçador e um mundo de fadas, de sonhos possíveis mas que vive numa disputa de poder milenar.
Gardner utiliza o tema do reino das fadas por acreditar no significado dos contos de fadas. São histórias que ajudam a compreender nossas vidas de uma maneira que a religião não pode. “Os contos de fada são a alma do mundo” ela explica. “Falam de verdades universais em um caminho mais acessível.” Todos os elementos essenciais de um bom conto de fada estão lá: uma madrasta má, um príncipe, magia, final feliz. Mas há também muita originalidade, com personagens bem construídos para seu papel no jogo da verdade que Coriandra entrará.
Coriandra é um livro especial, um triunfo de uma vida, encantador qie revigora qualquer um que o ler.