Aforismos são frases que procuram dizer em poucas palavras o que seu autor considera ser uma grande verdade. São variados os seus sinônimos, como ditados, máximas, adágios, provérbios, sentenças. Nietzsche, filósofo alemão, dizia que sua grande ambição era dizer em dez frases o que outro qualquer diria em um livro, o que outro qualquer não conseguiria dizer nem em um livro. Allan Percy reuniu noventa e nove aforismos de Nietzsche em um livro inteiro para explicar o que o filósofo quis dizer com suas frases. Não contente ainda pediu a ajudar de outros doutores para ilustrar as suas explicações. O resultado foi Nietzsche para estressados, um livro de autoajuda que certamente muito ajudou o seu autor, já que foi traduzido em muitas línguas e por aqui foi freguês assíduo das listas de livros mais vendidos. Nietzsche pensou, Allan Percy copiou e o segundo certamente vendeu muito mais livros que o primeiro. Eu acabei de comprar um e só posso dizer que tendo em vista os preços dos livros, foi bem baratinho. E li todinho durante a viagem de volta para casa (BH/Lavras).
Dizem que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Isso é um aforismo que adaptei para copiador que copia de copiador tem cem anos de perdão, porque é o que pretendo fazer agora, embora não pretenda escrever livro nenhum - só uma resenhazinha.
Quando faço uma resenha e quando faço é só para realmente me lembrar, sempre pergunto mentalmente sobre a razão que me levou a adquirir o livro que acabei de ler. A priori não gosto de livros desse gênero, simplesmente porque os acho muito mal escritos. Mas sempre tenho a esperança de encontrar algo novo, que valha a pena. Já encontrei coisa valorosa no ramo, mas ultimamente nada de bom, o que me leva a perguntar: o ramo mudou ou mudei eu ficando mais exigente com as leituras? Isso faz com que me lembre de uma conhecida tão, mas tão pedante que dizia ter parado de ler porque não mais escreviam livros a altura de sua inteligência.
Nietzsche filósofo alemão do século 19 bastante controverso, o que não o desqualifica, antes o torna único. Inteligente, brilhante, Quase todos os seus livros foram editados com dinheiro do próprio bolso e enviados para pessoas influentes que infelizmente não lhe deram a menor atenção. Seu sucesso só chegou perto da morte e sua obra extensa é lida até hoje. Tanto que Allan Percy chegou à conclusão que poderia faturar em cima dela com o objetivo de melhorar a nossa vida. E eu fico aqui pensando: quem for estressado pode ler um aforismo por dia e aplicá-lo a própria vida e se levar a leitura a sério fica curado em pouco mais de três meses, certamente bem mais barato do que freqüentar um psicanalista, um psicólogo ou um filósofo clínico. Comprei o livro porque gosto de modo como Nietzsche escreve embora seu modo de pensar, no essencial, seja bem diferente do meu – ele é materialista, eu espiritualista. Eu classifico esse livro entre os médios no gênero. No final encontramos um anexo que mostra a tendência moderna em utilizar a Filosofia como terapia e ainda tenho que confessar que iniciei um curso desses pretendendo me tornar uma Filósofa Clínica, ou uma Terapeuta Filosófica até que vi não ter jeito para a coisa e desisti. Mas partindo desse pressuposto, de que através da filosofia é possível livrar-se de problemas emocionais, acho que vale a pena ler o livro.
Alguns aforismos – 1) Quem tem uma razão de viver é capaz de suportar qualquer coisa em que somos aconselhados a buscar um sentido para nossas vidas.
2) O destino dos seres humanos é feito de momentos felizes e não de épocas felizes em que somos incentivados a curtir os momentos de felicidade sem a obrigação obsessiva de sermos felizes o tempo todo.
7) A palavra mais ofensiva e a carta mais grosseira são melhores e mais educadas que o silêncio que até pode se aplicar imediatamente sem explicação, mas que me ensinou a agir de modo diferente, pois brigar me estressa muito e prefiro responder com o silêncio porque surte mais efeito.
9) O homem que imagina ser completamente bom é um idiota um dos que mais me tocaram porque deixa claro que é na imperfeição que se origina a evolução e eu concordo perfeitamente com isso.
10) As pessoas que nos fazem confidências se acham automaticamente no direito de ouvir as nossas que pode também ser adaptada para quem nos faz favores se acha no direito de também pedi-los, aforismo que se não tiver dono vou considerar como meu, que desde cedo busquei na vida a autossuficiência, para não dever nada a ninguém.
13) Alegrando-se por nossa alegria, sofrendo por nosso sofrimento – assim se faz um amigo onde o texto explicativo esclarece que é bem mais fácil sofrer com o sofrimento do que alegar-se com a alegria e as vitórias do amigo.
Acho que estes seis aforismos já chegam para dar uma ideia do livro. Concordei com uns, discordei de outros e achei outros completamente sem propósito, dispensáveis ou mal explicados. O jeito é ler o livro para ver se concordam comigo, com o autor do livro e com Nietzsche. E para terminar – acho que para sempre aprendi a escrever o nome desse filósofo, colocando as letras no lugar certo.