O samurai Miyamoto Musashi
Ainda que você seja um estudante de artes marciais ou de história japonesa, e estivesse lendo sobre os samurais pela primeira vez, um nome sempre estaria em destaque, Miyamoto Musashi. Muitos escritores ocidentais escreveram sobre ele e a cultura japonesa, mas poucos fizeram uma pesquisa apurada para descrever a fina arte marcial e os seus samurais. Há muitos romances históricos, escritos baseados mais em mitos e não nos fatos reais. Entre os que podemos destacar, por seu trabalho, Dave Lowry e Ellis Amdur, mas que fizeram seus trabalhos centrados nas artes marciais. Podemos agora acrescentar à lista, William Scott Wilson, em livro recém-lançado, aqui no Brasil, O Samurai: A vida de Miyamoto Musashi, Wilson escreve uma biografia do mestre Musashi, o mais lendário espadachim japonês. É a primeira biografia séria de Musashi, o que se tinha antes era o romance histórico escrito por Eiji Yoshikawa, mas muito da história não fora baseada no fato histórico da vida do samurai. Wilson é um apaixonado pela cultura japonesa, a obra é resultado de ampla pesquisa como uma homenagem ao grande samurai e artista que foi Miyamoto Musashi.
Wilson após formar-se em língua e literatura japonesas, fez Mestrado nestas disciplinas na Universidade de Washington, dedicando-se depois ao estudo da filosofia do período Edo na Universidade de Aichi, em Nagoya, Japão. Traduziu para o inglês, importantes obras japonesas como o romance Taiko, de Eiji Yoshigawa, e o clássico tratado sobre o teatro nô Fushikaden, do autor medieval japonês Motokiyo Zeami, além de ser tradutor das mais tradicionais obras de Musashi, como O livro dos cinco anéis. O autor norte-americano extraiu de sua perícia como tradutor de textos clássicos de samurais para escrever uma original biografia do lendário swordsman japonês que viveu e lutou no século XVII, na era feudal japonesa que escreveu no fim de sua vida o mais completo livro de filosofia e de estratégia japonesa, o Livro dos Cinco Elementos.
Por mais de quatrocentos anos, Musashi foi uma das figuras históricas mais referidas na cultura nipônica. Espadachim, pintor, poeta e autor da obra já referida, Miyamoto Musashi foi um homem que se tornou para o japonês o que Robin Hood e o rei Arthur é para os ingleses. Um herói nacional cuja história verdadeira foi obscurecida pelos séculos por histórias, poemas, e jogos, além de muitos filmes, deste 1908 se produzem versões para o cinema do samurai, história mais ficcionais do que factuais. E Scott Wilson consegue recontar sua vida, mas também faz um completo exame da sua influência, incluindo uma detalhada filmografia.
O objetivo é encontrar o homem real por trás do mito; uma tarefa impossível, pois muitos dos dados sobre estão incompletos ou contraditórios. Em vez de supor ou inventar, Wilson se apóia no que se encontra registrado em documentos, anotando as discrepâncias ao longo do livro. O livro poderá não satisfazer aqueles que lêem biografias como romances, mas convencerá pelo caráter solidamente real e histórico. Ao mesmo tempo, Wilson não segue uma linha do tempo, fatos são descritos como um bom romance. Os duelos de Musashi, por exemplo o duelo com Sasaki Kojiro na ilha Ganryu em 1612, narrados no melhor estilo do gênero ficção:
“Exaltado, Kojiro avançou com rapidez contra Musashi e empunhou sua espada para frente, mirando o meio da testa. Naquele mesmo instante, Musashi brandiu sua espada de madeira da mesma forma, atingindo a cabeça do oponente. Kojiro caiu onde estava. A ponta de sua espada chegara a cortar o nó do hashimaki de Musashi, e a toalha pairou até o chão, mas a espada de madeira atingira seu alvo. Musashi abaixou sua espada e ficou imóvel por um momento e então rapidamente ergueu-a e para um novo golpe. Kojiro estava estendido no chão, mas naquele instante, descreveu um arco com sua espada, visando a coxa de Musashi. Mesmo tendo recuado, Musashi sofreu um corte de 7 centímetros no revestimento de seu hakama, talvez a menos de dois centímetros de sua artéria femural”
Ao fornecer esta e outras informações não-acadêmicas, Wilson aprofundou-se na importância de Musashi como uma figura cultural, consultando freqüentemente a sua própria tradução do Livro de Cinco Elementos. Porém não responde completamente à questão de porque esse homem, que não se curvou perante nenhum deus, pertenceu a nenhuma escola (exceto a sua própria) e rejeitou o casamento e o trabalho, e no fim nunca perdeu o apelo junto ao povo japonês, até mesmo a famosa classe de guerreiros que fazia parte.
Talvez ninguém possa dizer com tanta precisão, como Musashi se tornou uma figura que consegue influenciar classes tão distintas, dos militaristas japoneses da pré-guerra, que diziam que o samurai era um espírito dos seus valores tradicionais aos inveterados fãs de Inoue Takehiko da série de quadrinhos Vagabond, que vendeu mais de vinte e dois milhões de exemplares, um mangá que se aproxima do personagem Musashi de Edo: um selvagem e rebelde.
Um livro fascinante construído com afeição e dedicação, uma leitura da vida de homem verdadeiramente notável.