A Arte de escrever segundo Schopenhauer
A arte de escrever segundo Schopenhauer
O autor, filósofo, nascido em 1788 na Prússia, atual Polônia, viveu até 1860. Diplomou-se na Alemanha, era contemporâneo de Hegel com quem tinha acirrada rivalidade. Influenciou Freud, Nietzsche e Bergson. O livro em questão foi traduzido por Pedro Süssekind.
Transcrevo aqui, algumas idéias do autor, sobre a leitura, os autores e o aprendizado de um idioma estrangeiro.
- Classifica três tipos de autores: os que escrevem sem pensar, a partir da memória, de lembranças ou a partir de livros alheios; os que pensam para escrever, melhor dizendo pensam enquanto escrevem; por último os que pensam antes de começar a escrever. Escrevem porque pensaram.
- O título de uma obra deve ser significativo, curto, conciso, lacônico, expressivo. É contra os títulos prolixos, os ambíguos, os que não dizem nada.
- A primeira regra do bom estilo é que se tenha algo a dizer. A afetação no estilo é comparável às caretas que deformam o rosto.
- Querer escrever como se fala é tão condenável quanto querer falar como se escreve, que resulta num modo de falar pedante e difícil de entender.
- Deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela.
- A verdade fica mais bonita nua, e a impressão que ela causa é mais profunda quanto mais simples for sua expressão. Em parte, porque ocupa assim toda a alma do leitor, desimpedida e sem a distração de pensamentos secundários. Todo efeito provém do próprio assunto.
- Alguns escrevem como um arquiteto constrói: esboçando primeiro um projeto e considerando-o detalhadamente. A maioria escreve como jogamos dominó. No jogo, às vezes segundo uma intenção, às vezes por mero acaso, uma peça se encaixa na outra. O mesmo se dá com o encadeamento e a conexão das frases.
- Nenhuma qualidade literária (capacidade de persuasão, riqueza de imagens, dom de comparação, ousadia, amargura, concisão, graça, leveza de expressão, argúcia, contrastes, laconismo, ingenuidade) pode ser adquirida pela leitura dos que possuem tal qualidade. Quem já possui as qualidades em potencial pode evocá-las, trazer à consciência, ver o uso que é possível fazer delas, ser fortalecido na inclinação, na disposição para usá-las, julgar o efeito de sua aplicação em exemplos e assim aprender a maneira correta de usá-las. É a única maneira da leitura ensinar a escrever, na medida em que ela mostra o uso que pode ser feito com os próprios dons naturais, pressupondo sempre a existência deles.
- Cada livro importante deves ser lido duas vezes. As coisas são mais bem compreendidas em seu contexto na segunda vez, pois a leitura é acompanhada de outra disposição e outro humor. Também porque o início é entendido corretamente quando já se conhece o final.
- Não se encontra, para cada palavra de uma língua, um equivalente exato em todas as outras línguas. Nem todos os conceitos designados pelas palavras de uma língua são exatamente os mesmos que as palavras das outras expressam, por mais que essa identidade se verifique na maioria dos casos. Com freqüência são só conceitos semelhantes e aparentados, que podem ser diferenciados por alguma modificação no sentido.
- Quando se aprende uma língua, a dificuldade está em reconhecer cada conceito para qual essa língua tem uma palavra, mesmo que a própria língua de quem aprende uma língua estrangeira não possua palavra que corresponda com exatidão a tal conceito, o que é freqüente. Não aprendemos palavras apenas, adquirimos conceitos.
- Mediante o aprendizado de uma língua, tomamos consciência de uma quantidade infinita de sutilezas, semelhanças, diferenças, relações entre as coisas. Nosso pensamento ganha uma nova modificação e tonalidade. É um meio direto de formação espiritual.
- Para ser imortal uma obra precisa ter tantas qualidade que não possam ser entendidas todas por uma única pessoa, mas reveladas ao longo dos séculos, quando é apreciada em vários sentidos sem nunca esgotar-se por completo.
Embora escritos na metade do século 19 os conceitos de A. Schopenhauer devem ser apreciados e sobre eles refletirem todos os que lidam com a palavra como ferramenta de trabalho, como forma de expressão, como arte, como meio de autoconhecimento, como forma de aprimoramento espiritual.